A Infância de Papai

A infância de papai

Às seis da manhã:

O frio da manhã...

Camiseta rasgada,

os pés no chão da estrada

para buscar leite

para seus pequetitos irmãos...

Humilde desde pequeno!

Os canários já cantavam...

Os sabiás também...

Ô frio de lascar!!!

Às seis da manhã,

sem blusa, com frio,

atravessando o cafezal

cheio de orvalho que mais parecia lã.

Já perto de uma nascente

que brotava tão serena do chão

liberando sua água quente,

colocava seus pezinhos

até dormentes do frio...

Alívio... audácia... ânsia:

Alívio para o frio.

Audácia de poder se

amar no momento mais hostil.

Ânsia de matar-se:

Matar a miséria!

Matar a matéria,

a matéria do desamor

e do descaso tão cruel.

Às seis da manhã,

com seis anos de idade

e o frio da manhã...

Sem nenhum matrimônio,

inda criança-esperança...

O cabo da enxada já o esperava;

antes levava o almoço do seu pai,

meu falecido avô Pereira

que soltava mais fumaça

que a Maria-fumaça e

que morreu de graça,

cheio de histeria no corpo

por causa de um vício sem graça

que deixou a família em desgraça.

O cabo da enxada já esperava papai...

E suas mãos calejadas...

Sua cabeça pensava:

- Meus filhos por isso

não passarão jamais!

Não quero isso!

Por Jesus Cristo!...

Às seis da manhã...

O frio da manhã

congelava tudo ao redor

e internamente até no verão.

O cabo da enxada...

As mãos calejadas...

A pele queimada...

Um riso tão triste...

Um rosto sofrido

Pelo labor pesado, cansativo.

As fortes varizes...

Suas pernas roxas...

05/03/02 19h26min

Cairo Pereira
Enviado por Cairo Pereira em 20/04/2009
Reeditado em 05/10/2010
Código do texto: T1550130
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.