REFLEXÕES CANHOTAS SOBRE A FAMÍLIA

Família. Uma cena que respinga e resvala brilho, energia, grandeza na sua máxima vazão, na sua mais infinita envergadura.

Uma imagem que nos traz à vida, leva à vida e justifica a nossa vida,

razão de estarmos aqui, o motivo de cada passo, sentido de levantarmos após cada novo tombo. E de agradecermos por cada tombo, também.

Um presente que tem seu custo, só quem o merece sabe o peso e tamanho desse boleto que nunca fecha sua conta.

Algo que depende de nós pra existir, pra comer, pra acordar, pra ter onde dormir, pra simplesmente dormir, onde quer que seja, e ainda

conseguir sonhar.

E que, ao mesmo tempo, ecoa com brilhos, afetos e infinitos respingos de amor e de desembestada ternura. Algo que se traduz num gesto, num olhar, num toque de mão.

Tem horas que dá vontade de apagar tudo do mapa, e como tem.

Dá vontade de riscar nossas raizes e frutos pra nunca mais, pra nunca mais, mesmo. Sabemos bem o que é isso;

São tempos em que nos vemos fracos, mortos, desarmados pra qualquer ideia, qualquer ato, qualquer reação, qualquer vestígio de compaixão ou solidariedade. Somos nada, ou bem menos que isso.

Mas, apesar disso vir com força de Deus, esse mesmo Deus nos dá força pra atirar essas ervas daninhas pros confins do mundo, coisas de Deus, coisas das ervas daninhas.

E depois volta a luz, o sangue relembra que tem que correr, o gosto volta ao seu posto, o cheiro retoma suas faces, requebros e folguedos de arlequim. O coração volta a bater com a força de mil soldados, dá pra ouvir no outro lado do mundo o tilintar dos seus ossos batendo firme nesse duro chão.

E assim as cores recuperam a sua matiz e a gente acorda pra vida que deveria ser a nossa. E é nossa, sempre foi, pra sempre será.

Ao lado da família que a gente escolheu.

E que, por certo, também escolheu a gente.