A névoa.

Vá com calma meu senhor

Pode ser que esse não seja o seu trem

Sente-se mais um pouco nesse velho banco

Há muito tempo que nele não senta ninguém.

Tenha paciência sei que precisa partir

Sei que há muito tempo queres fazer isso

Só peso que deixe pelo menos tua lembrança

Sei que sua pele está velha e cansada

Que seus cabelos estão brancos

Brancos assim como a névoa da madrugada.

Tenha paciência ainda precisamos conversar.

Lembra de quando eu me perdia nas palavras?

Lembra de como eu gostava de ficar em silêncio

Pois em silêncio eu podia ouvir melhor seus ensinamentos

Pois eu era o aluno que ficava em silêncio.

Deixe-me sentar-se ao seu lado

Vou esperar que a máquina cheque

Vou esperar que a máquina passe

Vou ficar sentado nesse banco

Por que nem quero lembrar sua ausência

Quero apenas lembrar suas mãos em minhas mãos

Prefiro não ver mais as madrugadas

Elas me lembram algo estranho

Elas me lembram o fim.

A luz está cheia e as noites vazias como eu

Meu velho, meu velho e velho, o que sobrou

Hoje não durmo mais sem antes chorar

Será que alguém já esqueceu?

Largue aquele lenço encharcado de lágrimas

Deixe o tempo sana sua alma

E deixe sua alma leve como o vento

Ouça, mas tudo bem são meus passos nas escadas.

Olhe, agora é minha vez

Já demorei demais nesse banco

Ouço que meu trem se aproxima

Assim como tu fizestes um dia meu velho

Eu também estou com as madrugadas na cabeça

Foi tão rápido o ontem, o hoje, o amanhã.

E antes que eu esqueça

Obrigado pelas flores

Meu velho.