A dor e a delícia de ser pai
Mais um ano em que festejamos o dia dos pais;
E como em todos os anos, os filhos correm atrapalhados,
Em busca de algo que os agrade.
Eu assisto divertida a cena:
Uns escolhendo gravatas;
Outros escolhendo lanternas,
Porta-retratos, CD’s e caixas de ferramentas...
Fazem-me lembrar que há alguns dias,
Há alguns anos atrás quem corria em busca de fraldas,
Leite, sapatinhos, macacões, porta-trecos e mijões.
Eram os pais.
E meu rosto se ilumina num límpido sorriso,
Ao imaginá-los aflitos, agoniados e na expectativa,
Eles que antes da paternidade são apenas meninos,
Sim meninos...
Crescidos, algumas vezes imberbes, ingênuos,
Outros já com barbas, experientes na vida,
Mas para a paternidade, totalmente inocentes.
Ficam fascinados, deslumbrados,
Impressionados e assustados...
Assistindo o ventre da amada se avolumar,
Ouvindo a pulsação num aparelho antiquado,
Vendo numa tela, em branco e preto formas não tão nítidas,
De uma pequena vida...
E ficam inflados quando aquele ser tão amado e desconhecido,
Emite um sinal de que já está vivo, ao chutar e mover a barriga,
Daquela que era para ele uma amante ardente, uma delicada donzela.
Que fica tão linda, nas formas roliças, nas bochechas coradas,
De quem só por ser mãe é a mais senhora das majestades.
Ele ali, quieto, angustiado, telespectador de algo inusitado,
E totalmente apaixonado por um ser que ele ajudou a gerar,
Mas ainda desconhece o sexo, o som do choro,
Os traços do rosto.
Mas o que importa isso...
Para um pai, basta que ele resista ao nove meses de gestação,
Que nasça, menina ou menino,
Simplesmente que aqueça o seu peito,
Quando orgulhoso ele possa carregar em seus braços,
O mais lindo dos seres.
Aquele pra quem ele terá apenas um nome, não João,
Nem José ou Antonio, simplesmente e divinamente Pai.