DIA DOS PAIS

Meu pai está tão velhinho,

Tem a mão branca e comprida,

Parecendo a sua vida,

Longa vida que se esvai.

E eu o lembro quando moço

de uma atlética altivez.

Ah! Tinha força por três!

Você se lembra, papai?

Menino, ouvia dizer

Que você era um gigante.

Eu ficava radiante

E também me agigantava.

Porque toda madrugada,

Eu quentinho do agasalho,

Ao sair para o trabalho

O gigante me beijava.

Sua grande mão de ferro

Parecia leve, leve

Naquela carícia breve

Que da memória não sai.

Depois... um beijo em mamãe

E o meu gigante partia.

E a casa toda tremia

Com os passos de papai.

Mas agora o seu retrato

Muito moço, muito antigo,

Se parece mais comigo

Do que mesmo com você.

Você já lembra vovô

E, à medida que envelhece,

Papai, você se parece

Com mamãe, não sei por quê.

Você se lembra, papai?

Quando mamãe, de repente,

Caiu de cama, doente,

Era o pai quem cozinhava.

Tão grande e desajeitado

A varrer... Quando eu o via

De avental, papai, eu ria;

Eu ria e mamãe chorava.

Eu quis deixar o ginásio

Para ganhar ordenado,

Ajudar meu pai cansado,

Mas tal não aconteceu.

Papai disse estas palavras:

-Sou um operário obscuro,

Mas você terá futuro,

Será melhor do que eu.-

Eu? Melhor que este velhinho

A quem devo o pão e o estudo?

Que é pobre porque deu tudo

À Família, à Pátria, à Fé?

Meu pai, com todo o diploma,

Com toda a universidade,

Quisera eu ser a metade

Daquilo que você é.

E quero que você saiba

Que, entre amigos, conversando,

Meu assunto vai girando

E no seu nome recai.

Da sua força, coragem,

Bondade eu conto uma história.

Todos vêem que a minha glória

É ser filho de meu pai.

"Um dia eu fui tomar banho

No rio que estava cheio.

Quando a correnteza veio,

Vi a morte aparecer.

Papai saltou dentro d’água

Nadando mais do que um peixe,

Salvou-me e disse: -Não deixe!

Não deixe mamãe saber!".

Assim foi meu pai, o forte

Que respeitava a fraqueza.

Nunca humilhou a pobreza,

Nunca a riqueza o humilhou.

Estava bem com os homens

E com Deus estava bem.

Nunca fez mal a ninguém

E o que sofreu perdoou.

Perdoa então se lhe falo

Daquilo que não se esquece.

E a minha voz estremece

E há uma lágrima que cai.

Hoje sou eu o gigante

E você é pequenino.

Hoje sou eu que me inclino.

Papai... a bênção, papai.

(GHIARONI)
Enviado por Emy Moraes em 31/05/2012
Código do texto: T3698794
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.