Noite de Anjo

Uma noite fui anjo, ou anja.

Com asas apertadas e tudo.

Dores até o fundo da alma.

Com direito a vergalhão

das asas apertadas às costas.

Enquanto cordas atadas

me punham desejando alçar vôo.

Meus pequeninos pés

em sapatos brancos emprestados

- Já que esta era uma cor

difícil de encontrar, na época -

Deixava o meu interior clamando

a liberdade de asas polivalentes

que me lançassem rumo às nuvens

e ao paraíso.

Distante da dor

e da via crucis interminável.

À frente da procissão

o fragelo de Cristo.

Seguido do desespero de Verônica

Acompanhado de minhas lágrimas

Deixavam a todos admirados

com tanto sofrimento.

E clamavam:

- Que lindo anjinho.

- Como sofre, com tanto martírio.

Essas palavras caiam profundo e

amenizavam minha tragédia.

Eram pausas entre o inferno e o paraíso.

Até ao término, quando ao longe

da porta da igreja, avistamos minha mãe

Com um galho da árvore nas mãos.

Ela despejou o mais convincente sermão.

Fazendo eu e minha irmã lacrimejar sem parar.

Tudo fora perfeito.

Não fosse o detalhe de minha irmã

ter-se esquecido de avisar nossa mãe

Que naquela noite seríamos anjas.

-

anna celia motta
Enviado por anna celia motta em 02/04/2013
Reeditado em 13/02/2014
Código do texto: T4220039
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