MEU PAI, MEU MODELO
MEU PAI, MEU MODELO
Aquele apito soava
Como um alarme
Em meu coração...
Nos meus cinco anos
Jamais meu entendimento
Comportaria a idéia
De que naqueles bolsos
Donde eu tirava
Ávida e religiosamente
As balas que adoçavam
As noites de minha inocente vida
As mãos que lá as haviam colocado
Haviam trabalhado no mínimo doze horas
Num mesmo dia!
Não há mais apito
Não há mais bolsos
Não há mais balas
E nem inocência!
Nem aquele boné de operário...
O trabalho...
O que seria mais importante?
A vida?
Só se de trabalho!
Necessidade...
Conceito...
Conceito público de trabalhador!
Honrado, honesto.
Que dava dignidade,
Que gerava respeito
Que conquistava amizades
Que despertava orgulho!
De trabalhador...
Simplesmente, humildemente.
Que paradoxo!
Orgulho da humildade.
De ser apenas um trabalhador
Digno
E como tal ser respeitado.
E querido!
E o coração cresceu...
De tanto trabalhar
Cresceu para abrigar esperanças
De que sua descendência
Pudesse repeti-lo
Porque havia uma coisa mais importante que o trabalho...
A família, no trabalho!
Dos seus bolsos, meu pai
Tirei doces
Do seu trabalho, meu pai
Tirei vida
Da sua vida de homem, meu pai
Tirei modelo!...
Leopoldina, MG, 27/11/1987.