Reminiscências – A Casa em que nasci

Nossa casa foi construída

Sem vizinhos vejam só

Com vista pra linha do trem

Lá no bairro do Sengó

A casa em que nasci

Era grande e amarela

Com assoalhos rangedores

Quando a gente corria nela

Minha família era grande

Onze pessoas nela residia

Nossa casa era aconchegante

Não tinha melhor moradia

Enormes janelas ela tinha

Mas de uma me fez amarra

Ficava defronte a uma lagoa

Onde os sapos faziam algazarra

Tinha um belo fogão à lenha

Onde tudo se aquecia

Até mesmo a água de banho

Tomado em enorme bacia

Ah, e no porão de nossa casa

Quanta coisa ali contida

Selas, ferramentas e outras tralhas

Que “Seu Cotia” usava na lida

Para guardar os mantimentos

Uma despensa muito rica

Nela, um moinho de café

E um pilão pra paçoca e canjica

Na cozinha não tinha forro

E fogão aceso todas as manhãs

A fumaça era uma constante

Formando cortinas de picumãs

Sobre o fogão, pedaços de bambu

Estavam sempre pendurados

Repletos de lingüiças e toucinhos

Que pra comermos defumados

Ao abrir a porta da sala

Avistava-se um lindo mangueiro

E um paiol repleto de milho

Que pra durar o ano inteiro

Pela porta da nossa cozinha

Topava-se com um largo terreiro

Um caminho pra bica d’água

E de frente um galinheiro

Em frente de nossa casa

Um belo jardim se exibia

Era o mais lindo dos jardins

Era o orgulho de Dona Fia

Nas paredes de nossa casa

Muitas molduras de recordação:

Dos retratos de nossos avós

Aos santos de nossa devoção

No pomar de nossa casa

Tínhamos de tudo plantado

De um enorme pé de caqui

A um pequeno fruto importado

Nossa horta era imensa

Que espelhava muitos cuidados

A todos uma parcela de tarefa

Prá ficarmos bem alimentados

Como era farta a nossa casa!

E hoje uma pergunta me vinha

Como podíamos ser tão ricos?

Se dinheiro lá ninguém tinha?

Paulo Kostella
Enviado por Paulo Kostella em 05/08/2013
Código do texto: T4419962
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