FILHOS.

Filhos sugam o melhor da nossa alma,

faz nossos sonhos virarem pó,

transformam nossas rochas em gelatina.

Filhos bagunçam cada osso da nossa coluna,

faz da gente gato e sapato,

pra que:?... Pra que?...

Filhos colocam a gente numa caldeira latejante,

caçam a alforria da alma,

fazem pouco caso da nossa dor.

Filhos pisoteiam nossos segredos,

descabelam cada fiapo da nossa dor.

gargalham diante do nosso desespero sem cansar.

Filhos estragam nossos álibis, nossas encenações,

nossos afagos de farsante,

desmoronam todos tijolos da nossa fé,

um atrás do outro.

Filhos nos colocam no tronco e mandam ver nas chibatadas,

rindo até o chão de toda terra tremer.

Filhos vão surrupiar até o nosso último centavo

depois disso, nos jogarão num quarto encardido qualquer,

até esquecer da gente por inteiro.

Filhos são estorvo que nunca cessam de nos azucrinar,

nos atormentar, atazanar, enrolar, enfezar, enfeiar, encardir,

nos deixam de quatro e acham que isso é o máximo.

Filhos só servem para atrapalhar nossos sonhos,

embranquecer nosso tesão, fazer nossa respiração trovejar

e morrer de vez, de vez mesmo.

Filhos são o arremate da criação de Deus,

são o que nos fazem não sair do prumo,

nossa âncora certeira, o gosto mais apurado do nosso sonho,

a pétala mais bonita que iremos ver um dia.

Filhos são a razão de acordarmos cada manhã,

elixir que nos traz de volta à vida quando tudo ruir,

são o empurrão que faz o nosso sangue correr como nunca.

Filhos são o silêncio, a paz, a calma que vem em seguida do gozo,

são o esteio de cada dia, são o calço que não deixa nosso medo reinar sozinho,

calor que nos acolhe quando a nevasca se apossar do nosso suor.

Filhos são a razão que nos faz acreditar no divino,

adoram fazer pouco caso dos nossos passos,

desfiam nossa razão com maestria secular.

Filhos vêm para colocar nosso sofrimento à deriva,

como atônitos e loucos andarilhos só pra nos levar à loucura

pra de lá não nos tirar nunca mais.

Filhos são chagas que não cicatrizam nunca,

rasgam nosso peito sem dó, deixam nosso hálito apodrecer,

confundem nossas articulações, embriagam nossos músculos até sempre.

Filhos são dádivas que herdamos do Paraíso,

são presentes maravilhosos que todos os dias se colocam no nosso caminho,

são doçura, são encanto, são só coisa boa, só coisa boa,

fazem a gente virar moleque de novo,

são alegria sem nunca dizer chega.

Filhos se apoderam até do nosso momento de contemplação,

nos traem pelas costas quando menos esperamos,

empurram a gente do precipício gargalhando sem parar.

Filhos são benditos frutos que o Criador nos permite colher,

são o cheiro mais apetitoso de paixão,

são faíscas de felicidade que inundam nosso peito,

são cabrestos que não nos deixam viver em paz,

são a tradução mais íngreme de que o nosso show nunca deve parar.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 16/11/2013
Reeditado em 16/11/2013
Código do texto: T4572909
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