O Velho Sentado

Meu pai! Suspira olhando o tempo, o velho sentado na cadeira de balanço ao balançar. De lá para cá, de cá para lá. Seu embalo embala o medo, que embala a melancolia de se ainda viver. Seu medo é seu carrasco, seu carrasco não dá trégua.

Seu tempo já é pouco. Pouca é vida que ainda se tem. Têm-se medo. O medo é seu mais pronto companheiro. E a cadeira continua a embalar. De cá para lá, de lá para cá. Já não ouve bem. Mas se ouvisse? De que lhe serviria ouvir a musica, pois já não pode dançar?

Ouço passos. Passos lentos. Feito a dor que fere por dentro. A vida passa tão devegar! Quisera fosse a vida de agora um sonho para se sonhar. Seus pelos nas orelhas, nas narinas, já não perturbam mais. Nesse tempo vai-se com o tempo, tantas françoes de tempos que ficaram para atrás.

Se se questionasse do tempo! Se nele se encontrasse só mais um tempo! Mas qual! Já o tempo não há. Não há mais valsas para dançar. Não há pernas que sustente o tempo, pois esse que esvai-se contando histórias, leva consigo o vigor deixando a memória.

Seus pensamentos são ninhos de áves de rapina que o roubam segundo a segundo. Passa a mão no rosto, nota-lhe as rugas que lhe dizem quem ele é. Treme-lhe as mãos, as pernas e pés. O que é? É o tempo que esvai-se levando a vida e deixando a dor.