flor de algodão

Para minha mae Aurora, minha boreal

Não sou poetiza como ela, mas aqui conto o que vi e faço parte.

Flor de algodão.

Um dia, em ilustre chão , era manhã o sol raiou e se fez clarão.

Nasce a Aurora, uma menina com olhos azuis, boreais.

Pequena e traquina, cheia de mimos, cuidada pelos olhos de quem tudo vê,

Doce mãe, amorosa e atenta , entre rendas e beijos ela observa sua filha crescer.

Amor de mãe , se faz presente em tardes claras, rizadas juntas , espalhavam pelo ar

Seu sonho se realizara, brincava com sua caçula, como se fosse boneca, sempre a ninar.

Aurora menina, clara, doce, feliz, seus dias seguiam a crescer cada vez mais

E nos braços maternos se sentia segura, vendo pela janela o tempo passar.

Numa noite turbulenta, entre raios e trovões, chuva caiu sobre seu rosto

Lhe vestiram com um manto, sem enfeites e sem flores, mas negro como sua dor.

Tão pequena, tão menina, mal sabia sua sina, o quanto seria seu pesar !!!

E seus olhos de tão azul, se fez mar, transbordou em rios, lagos ,fluindo sem parar.

Do céu se fez chão, do abraço antes largo, não tinha mais atenção

E assim, da menina se viu luto, do sorriso um soluço, era só solidão

Onde esta minha mãe? Por onde andas? Como poderei te tocar? Como te trazer de volta?

Porque visto preto ???!!!!!! e por ela devo orar?

Eram perguntas sem respostas ...... Lançadas ao ar.

Do silencio se fez tempo, os dias ficaram tristes, cinzas, vazios e desiguais

Do berço, antes reluzente em ouro, se transformou em ferro frio, não tinha mais bom despertar.

Do chão batido, se viu descalça seu caminhar, dos brinquedos ferramentas, do trabalho seu penar

A menina em farrapos, seguia sem reclamar, antes traquina, agora franzina, não era fácil saber amar

De casca dura, espinhosa , sem água , sem poda, no chão seco resistia ao tempo e ao vento ,

A linda menina de olhos azuis, viu seu coração em planta de cacto se transformar

Entre tapas e dores, cicatrizes e desamores, foi crescendo , tornando- se forte, pegando forma a menina

Mocinha linda, mas de olhar vazio, assim seguia pela vida , a tropeçar , cair e levantar.

Com o tempo se via, tudo se transformar, não era cacto sua essência , Só era vestimenta para a menina sarar

Que a vida sábia, lhe fez disfarçar, entre cascas e espinhos , lhe deu carapaça.... assim protegeu seu caminhar.

E da menina antes cacto , Que em solo arenoso só poderia nascer como arbusto duro e espinhoso

Quem passava só não via, na sua pressa do dia, era tão doce o olhar da menina, faltava somente regar.

Em uma tarde finalmente, na planta de cacto rompeu, no lugar esquerdo do peito nasceu frondoso botão

Foi abrindo lentamente suas pétalas , aparando suas arestas, tomando forma a flor branca de algodão

E em um dia sem data, sem hora marcada, a vida se viu mudar, o amor aconteceu derrepente

Vindo não se sabe de onde , olhos negros e brilhantes pousou sobre a flor ....e dela a fez mulher

E a flor do serrado ...tão agreste, ousou sonhar com a estrada ,de onde viria seu descansar

Seu coração transbordava, se viu um lar se formar, tudo era festa, entre beijos e serestas via o dia raiar

E na cabana, casa caída, na beira da velha estrada , entre ninhos na paineira, a vida aconteceu

Da flor de algodão, mas pé de cacto, nasceram dois botões lindos de rosa, que em noite enluarada floresceu

Mas de novo o tempo muda, o que era poesia em prosa se transformou, sem rima, sustenido ou falsete

O amor foi se embora derrepente, e só sobrou para Aurora, em suas mãos duas rosas para dele se lembrar

Lembrou-se que seu pé era de cacto, mas que seu coração era de flor de algodão, trabalhou duramente

Viu crescer suas meninas, protegidas por seus espinhos, não queria a mesma sina se repetir novamente.

Trabalhou a terra, plantou suas roseiras, foi aguando, aparando suas folhas, dia e noite sem sessar

Viu crescer os primeiros ramos, rompendo a terra, suas primeiras folhas surgirem em noite de luar

Da primeira rosa viu germinar a semente, nascendo de sua aste dois botões fortes, belos e imponentes

Um botão de olhos negros e serenos, outro azuis recordando o seu olhar, enfim dando o seu continuar.

Da outra rosa , viu surgir sem semente, com espinhos e folhagem, mas um arbusto, grande e imponente

Dando sombras na estrada empoeirada , proteção ao calor e sol escaldante, para quem precisar se aliviar.

E quando, hj, roseiras e botões, contemplam no horizonte da vida pode ver passado e presente se cruzar

A história se faz presente, e olhando na imensidão da campina uma plantação grande se formar

La ao longe em terra fértil, perdendo-se no horizonte da vida.. aquela linda menina... sua colheita ceifar

Roça de algodão, com botões frondosos, cheio de flocos em nuvens branca... como a neve ao luar

Mas quem passa e olha atentamente, em cada botão germinada de sua semente, há uma marca da menina

Uma mancha azul turquesa, a vida lhe deu honrarias e faz lembrar a todos a cor de sua retina.... para nunca mais esquecer.

E lá na colheita se faz cantoria , entre nuvens de poeira e alegria, das flores de cacto colhe-se algodão

E na imensidão das campinas, entre arbustos frondosos ,pode-se ver uma senhora, na plantação a cantar.

Das mãos calejadas pela vida, transforma na roca gasta e empoeirada pelo tempo, o fruto em fio longinal

E dos fios, finos e longos, vai - se tecendo o tempo, a vida, o cacto, a rosa... fio de algodão artesanal

Hoje as duas roseiras, uma com seus botões de algodão manchados no seu centro, outra com suas folhas pelo ar.

Podem contar sua história, de um cacto que se fez flor de algodão, vão poder finalmente olharem para tras

Veem claramente na soleira, ou na sombra da paineira uma menina de olhar azul turquesa ,com sua mãe a brincar.

Ecoa-se pelo espaço... risos largos e faceiros, borboletas a voar, passarinhos no seus ninhos ...a vida calma a reinar

E as filhas, de suas filhas, hoje estão aqui contando sua historia, roseiras germinadas da flor de cacto, que só era algodão.

Mas para o tempo não tem tempo... hoje podemos dizer... Aurora que vimos..todas juntas em noite de natal

Sua história é nossa vida e se olhar para seu lado poderá ver o que vemos, sentir o que sentimos

Olhe para sua direita... e calmamente.... Veja sua mãe por-se a tear, na roca suja e gasta pela vida

Ela lhe faz manta linda, com um crucifico ao centro, a manta é de folha de cacto, os adornos de algodão e a cor é da roseira, que dela e de você fez germinar.

E olhe atentamente...do lado da mãe há uma menina com seus olhos azuis turquesa reluzentes,

Podendo voltar finalmente Com suas bonecas brincar.

Assim vejo

minha mae.

Meu botão de flor de algodão.

Bia 20.12.2016

Bia Triches
Enviado por Bia Triches em 20/12/2016
Reeditado em 23/12/2016
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