Como um verdadeiro pai

Trocaria a minha vida pelas suas.

E já troquei.

Troquei suas fraldas,

mesmo que meio desajeitado,

mas o amor, creiam,

compensa todas as falhas.

Eliminei, em parte, as farpas e espinhos

e com carinho construí o ninho,

sem nunca engaiolar os meus passarinhos,

pois quem tem asas precisa voar.

Filhos não têm asas,

mas são como anjinhos

e os anjos têm.

Procurei fazer um pouco de tudo,

tentando conter o impulso,

de fazer tudo de tudo,

simplesmente baseado nos passarinhos,

que quando fora do ninho,

têm que aprender a caçar e pescar,

pescar e caçar, sem ordem definida,

de acordo com as suas habilidades,

sem -de verdade,

que seus pais tenham pena,

no sentido literal, é claro.

Só no claro conseguimos enxergar.

Amar sempre foi o meu verbo preferido

e ele é, com certeza, um verbo transitivo.

Sim.

Porque por ele é muito mais fácil trafegar.

Passeiam a amizade e a sinceridade,

de mãos dadas pela praça,

como se fossem namorados.

Passa a tolerância, em respeito às mudanças,

mas por ali não passa a inveja,

por ser um substantivo abstrato,

oriundo de um outro verbo,

da mesma conjugação,

mas esse,

é intransitivo por demais.

Daria sim, a minha vida pelas suas

e com isso, quem mais lucraria?

Irrelevante.

Tanto o mestre, quanto o discípulo,

navegam no mesmo rio,

apenas em lados contrários,

bordas que se convencionou serem chamadas de margens

e algumas convenções são muito importantes,

-e interessantes,

como essa sagrada instituição designada de família.

Não sei qual é a minha missão na vida

e nem ela nos conta,

por isso sempre procurei levar em conta,

conviver pacificamente e em harmonia,

para poder, quem sabe, um dia,

deitar e descansar de forma tranquila,

tendo em minha filha -e filho,

a chance de não deixar que o amor sucumba

e com ele a paz, a liberdade e a felicidade,

para que, se um dia eu tiver que voltar,

conforme prega a minha crença,

retorne, como uma outra criança,

a um mundo bem mais feliz.

Isso sempre foi o que eu mais quis

e ainda quero,

e talvez vocês entendam melhor isso,

observando como o quero-quero,

protege tão bem os seus filhotinhos.

Somos todos adotivos

e filhos de um mesmo pai

e vocês podem chama-lo como quiserem,

somente estando atentos,

que os lamentos sempre vêm,

após uma atitude mal tomada.

Nada surge do nada

e que sem uma razão para viver,

as nossas vidas, nada teriam a ver.

“A cada ação corresponde uma reação...”

Esta talvez tenha sido a temática do sermão.