ALZHEIMER

Quando já não sei em que ano estou,
nem o dia em que nasci.
Não sei mais diferenciar um caldo de cana de um suco de abacaxi.
Não sei a diferença de uma macaxeira para uma batata doce.
E não me lembro mais daquela fruta que vi na televisão:
“Como se chama mesmo?”
“Ah! Mamão! É muito bom mamão né”?

Não esqueci todavia como amar,
como proteger, como fazer carinho.
Não esqueci de como abraçar com tanto amor
que não é necessário dizer eu te amo.
Algumas vezes não recordo o nome dos meus filhos,
reconheço-os ao ouvir a voz.

As vezes me esqueço quanto custa as coisas que como,
mas não esqueço que o homem que vive ao meu lado
gosta de suco de goiaba e pão doce e eu quero dar-lhe
todos os dias a mesma coisa porque é disso que ele gosta.

Quando eu redescubro uma fruta verde de polpa amarela
e como seis por dia como se fosse uma criança em cima de um pé de manga.
Quando eu não sei desenhar um relógio, nem para que servem os ponteiros,
mas não esqueço todos os dias de dormir, no mesmo horário, com
o homem que está comigo a cinquenta e quatro anos.

Eu perdi minha memória, mas nunca a minha doçura.
André de Siqueira
Enviado por André de Siqueira em 08/05/2019
Reeditado em 14/05/2021
Código do texto: T6642223
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