Morro dos ventos mutantes

O morro dos ventos mutantes

Havia ali tantas histórias

Algumas passadas, outras bem presentes

Mas todas de vidas entrelaçadas

Onde o riso e o pranto

A riqueza e a pobreza

A fé e a incredulidade

Mesclavam-se

Causavam atritos.

Era uma casa, no alto de um morro

Um imenso casarão.

Tantos ventos por ali passavam

Tantas coisas testemunharam

Naquelas vidas absortas

Em suas próprias alucinações

Em suas guerras infindas

Em suas desgraças.

Esperava-se que bons ventos

Trouxessem a paz há muito esquecida

Mas quanto mais mudavam os ventos

Menos as pessoas mudavam:

Disputas por migalhas de amor paterno

A soberba de uma vida abastada

O desprezo pelos humildes

E a ambição que trazia separação

Que já trouxera a morte

E (por mais que se negue)

Um suicídio.

Naquele morro de ventos vorazes

Que desenhavam as copas das árvores

E espalhavam o pó do chão

Algumas flores nasceram tímidas

Em pueris corações

Que, por não suportarem as ausências

Por insistirem em jamais sucumbir às demências

Dali partiram para longe

Porque, mais do que sobreviver

Era preciso viver.

Mas será que haveria esperança

Para os que ali permaneciam

Que não conseguiam romper suas cadeias

Que insistiam naquele vida enfadonha

Naquele lar cruel e insano?

Talvez, se os ventos de suas almas mudassem...

Mas não, não mudavam jamais!

E o que sei daquele morro?

O que sei do velho casarão?

Até onde as histórias voaram

Até onde os ventos as levaram

Abandonado está.

De velhos, todos morreram

E aqueles que vivos ficaram

Escondem os seus segredos

Mas para lá não voltaram:

Tristes memórias merecem ser enterradas.

Os ventos continuam os mesmos

Sempre impiedosos

Alguns ventos mudaram

Alguns

Seguem pesarosos.

Este poema faz parte do meu novo livro MEMÓRIAS DO VENTO. Todos os direitos reservados. Lei 9.610/98.

Mizael Xavier
Enviado por Mizael Xavier em 17/06/2021
Reeditado em 18/06/2021
Código do texto: T7281223
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