AO MEU PAI
1
Beijei-te os pés, meu pai, quando morreste
Por não ser digno de beijar-te a mão.
Reneguei os valores em que creste,
Não fui capaz do olvido e do perdão.
2
Plantaste tanto e pouco recolheste...
Cultivei, quando muito, a compaixão.
Imperfeito que foste, a perfeição
Foi tudo o que pra mim tu concebeste...
3
Da minha vida em vão traçaste o trilho.
Se o modelo, no entanto, me indicaste,
Eu fui perfeito em minha imperfeição
4
Sou sangue do teu sangue - eu sou teu filho
mas não soube colher o que plantaste.
Sou, pois, indigno de beijar-te a mão.
(In “Mea Culpa”, Ed. Codpoe – Rio, 1989)