AO MEU PAI

1

Beijei-te os pés, meu pai, quando morreste

Por não ser digno de beijar-te a mão.

Reneguei os valores em que creste,

Não fui capaz do olvido e do perdão.

2

Plantaste tanto e pouco recolheste...

Cultivei, quando muito, a compaixão.

Imperfeito que foste, a perfeição

Foi tudo o que pra mim tu concebeste...

3

Da minha vida em vão traçaste o trilho.

Se o modelo, no entanto, me indicaste,

Eu fui perfeito em minha imperfeição

4

Sou sangue do teu sangue - eu sou teu filho

mas não soube colher o que plantaste.

Sou, pois, indigno de beijar-te a mão.

(In “Mea Culpa”, Ed. Codpoe – Rio, 1989)

Cleverson da Silva Gomes
Enviado por Cleverson da Silva Gomes em 24/11/2007
Reeditado em 24/11/2007
Código do texto: T750990