Menino em Minas

Menino em Minas

(Para o meu avô)

Vô de onde o senhor veio?

Fui menino sem destino pelo chão de Minas

Casa tosca de barro, quintal sem cerca

Janela de madeira, cristaleira na sala

Mãos abundantes de guaviras e estrelas

Implacável cacador de passarinhos

Invencível trapezista de trilhos

Alma ensolarada a vida inteira

Tecida com fio de lona de circo

Vô de onde o senhor veio?

Acordava manhãzinha, leite espumante no curral

Capinava suarento junto ao pai o verde milharal

Na lagoa banho e pescava o peixe do almoco

Macaqueava as árvores muitas do quintal

Atrevia num mergulho a superfície do riacho

Sumia mato adentro enquanto o dia escapulia

Voltava guiado pela mão de uma estrela

Pão de queijo, fogão a lenha, pinga de alambique

Rapadura, cajueiro, café, carro de boi e precipícios

Drumond, Ziraldo, Tiradentes, Rubens Braga

Juscelino, Tancredo, Sabino e o meu avô velhinho

O adeus do menino que foi se embora da infância

Deixando ao longe anuviada chorando na partida

A alma ensolarada tecida com fio de lona de circo