PAI VEM CONVERSAR COMIGO.

Pai vem conversar comigo.

Eu quero te contar tantas coisas, pai.

Lembra, quando tu me dizias que o mundo era um perigo?

Mas, completavas: Quem se cuida não se machuca, não cai.

Hoje eu desejei resgatar no teu olhar azul claro

a confiança que quando criança, tu me passavas ao despertar.

Tempo em que à força de todo o meu despreparo

ainda me permitia ter esperança em meu sonhar.

Porque o mundo pai, era meu.

Eu não pensava que com o tempo tudo iria se modificar

E, que um dia o sol, o meu sol pai, seria breu.

Pra mim pai éramos perfeitos, jamais iríamos errar.

E eu não entendia que também era passível da falha alheia

Tu também, não. Tu também não, pai! Confessa!

Por isso, nos sentíamos seguros. E de sonhos a cabeça era cheia.

Mas, sabe pai? A minha ainda é assim como a fé que tu professa.

E, entalhas na margem clara e quente da areia

ou no profundo mar azul mas, nem assim se termina.

Pois, o sonho pai, sempre foi minha vida...

Assim, também o entalhei, porque ainda me fascina!

Mas, pai... Vê, o vento soprou acredita!

E a onda do mar apagou nossa quimera bendita...

Malogrou meus passos e eu nem sei em que momento foi

que o meu castelo... (e o teu também, pai!) ele se dissipou.

Assim como meus cursos de inglês e francês...

E, com eles pai, eu deslembrei dos antigos sonhos.

Assim, pai, a vida esqueceu a insensatez...

Não obstante, até hoje eu procuro um vão de lucidez,

que aprenda em meus sentidos em qual dos luares foi,

que não me fiz, ou simplesmente me deixei entender...

Porque o futuro predito, esperado, deixou de acontecer?

Por que, pai?... Por quê?!

Ah, pai... Se nostalgia fosse nuvem dessas que vêem enegrecer,

o vento minuano a dissiparia, ou qual lágrima, se esvairia

tão logo parasse de chover...

Feliz? Que feliz pai? Felicidade é quimera!

E, se fosse possível, quem dera pai

eu ainda pudesse conhecer...

Ainda assim, pai, eu te agradeço o sonho.

Porque se não fosse por ele, pai,

eu não estaria aqui, agora, pra reclamar.