Tempo vivo

Isto que a fotografia faz,

papel, tantas vezes trai

a memória.

Parece que o vivido

não é lâmina, cristalina,

ardente, luz dentro do peito... Desgastado, o papel,

parece que a lâmina, saudade,

perdeu seu fio

e já nem corte,

e já nem dói... que tanto tempo faz.

Armadilha de também de carta

antiga (guardada) apaga-nos

palavra sem nada,

fogo, água, traça... e a gente fica tentando adivinhar

o que se quis dizer.

O que se quis dizer é a carta, em si,

ato de juntar palavra por palavra,

para dizer "amor", para dizer "saudade"... Aquele papel amarelado... Aquele sorriso em preto-e-branco... No entanto, a saudade é menina

e, sempre, escapole dentre estes papéis,

desarruma a sala,

faz bagunça no peito e fala:

memória de amor de verdade

só cresce com o embotado,

o tempo, a insensibilidade

da cega traça. E o Tempo

não rói fotografia e carta

de dentro... aquela imagem,

translúcida, do que foi

com a força e o viço do que-será... Meu avô no meu peito, menino,

tem a cara do meu filho.

Luciana Cavalcanti
Enviado por Luciana Cavalcanti em 17/05/2024
Código do texto: T8065384
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