INGENUAMENTE FAVORECIDO

E o senhor José da Silva,

Recebe um aviso, uma missiva,

Lê mal, tem pouca cultura

Mas entende que é da Prefeitura.

Arreia o Sereno e vai à cidade,

Do sítio onde mora, é distante,

Cansa-se, pois é de idade,

Ele e o cavalo estão ofegantes.

Vai ao primeiro piso,

Ao funcionário, mostra o aviso

Este, olha-o indiferente,

Dizendo displicente :

- Você vai ao oitavo andar,

Seção de lançamentos,

Lá vão relacionar,

Quais são os documentos.

O pobre vai pela escada,

Não conhece elevador

E na primeira entrada,

Pergunta a outro senhor :

- É aqui o lançamento ?

- Não sei não, senhor,

Aqui tem departamentos,

Cada porta é um setor.

Em outra porta entra seu Zé

E lhe informam onde é :

- É a última do corredor

Procure lá o Agenor.

Agenor nem dá atenção

Ao pobre contribuinte,

E com grande lentidão,

Diz ao homem o seguinte :

- Pegue do IPTU as guias,

RG, CPF, xerocadas,

Devidamente autenticadas,

Procure no nono, a Maria.

- Antes da sua Ida,

Preencha o requerimento

Com firma reconhecida,

Pelo Site do departamento,

Veja as taxas devidas.

- Calcule o equivante

Ao índice do IPC,

Tire o coeficiente,

O resultado vai ter.

- Já os juros de mora,

Vá no décimo andar,

Peça para a Aurora,

O cálculo a aplicar.

- De acordo com o IBGE,

Você sabe, como é...

Muita gente deixa atrasar

E não consegue pagar.

- Mas quem sabe esperar,

O Prefeito, Seu Germano,

Que é bom ser humano,

Resolve sempre perdoar

E Isenta no fim do ano,

Todas as taxas a pagar

E o que é mais legal...

Só se paga o principal !

- Ô seu moço,

Inté agora sem almoço,

Cansado de fazê dó,

E ainda o pió,

Tô duro que é um colosso !

- Isso que o sinhô me falô,

Só entende quem é dotô.

Num acha que era mió,

Dizê rápido como ráio,

Qui era pra num pagá ?

Eu moro nos cafundó,

Perdi o dia de trabaio,

O Sereno tá que dá dó,

Pra vortá num tem ataio,

Ô Seu Germano, tem dó !

Auro.