Enquanto o poeta dorme...

As palavras cruzam-se num ato de amor

E os leitores se aquecem

Os pensamentos florescem...

As letras se roçam

As vogais se coçam...

Os acentos sopram

As consoantes se espreitam...

As cedilhas deitam

As vírgulas ferem

Os pontos finais fogem...

E os tremas sobem

O vocabulário se esconde...

O verbo logo age

O sujeito aparece...

O parágrafo resplandece

O objeto se perde...

Entre o direto e o indiretamente passado

O dicionário é aberto

Para ver o mais que perfeito instalado

Mas o pretérito se explode!

E os adjetivos vibram!

Os subjetivos exageram

As interjeições promovem comoções

Na curiosidade das interrogações

Os pronomes dançam... Entre eu e você...

Os predicados são sacados

Os artigos ficam indefinidos

O presente e o futuro se confortam

As preposições arrasam...

E as silabas são seqüestradas...

Os sufixos ficam fixos

Enquanto os poemas dormem

Nos braços dos radicais

As reticências se insinuam

As conjunções não conjuminam

E os versos não terminam...

Porque brigam com as metáforas

E se assanham com as parábolas

Que insistem em fazer bagunça...

No namoro do prólogo ao epílogo

Tudo se enrola

A tese transa com a antítese

E nasce a síntese...

Então fica o dito pelo não dito...

E assim escrevemos mais um dueto

Ou será um soneto... Meio canhoto

Vai ver que é mesmo destro

Sem o respirar do ponto e vírgula

Ou o chapéu do circunflexo.

Estamos perplexos!

Mas será o Benedito?

Duo: Enise & Hilde

Navegando Amor
Enviado por Navegando Amor em 14/08/2008
Código do texto: T1128618