A casa de botão

A casa de botão

A casa do botão

Já não mais o segurava

Tão sozinho e largado

Outra casa procurava

Mas a blusa entortava

E a dona logo via

Que, quando ela o encaixava

O botão escapulia

Ai que casa mais frouxinha

Essa desse seu Botão

Que vivia, assim, de olho

Na vizinha apertadinha

Mas pedia a Maria

Que, então, a costurasse

Pois, entrando todo dia

Natural que se rasgasse

Ai Maria! – ele pedia

Tenha dó deste botão

Ói que um dia Deus castiga

Aleijando a tua mão!

Ó que agulha e linha tinha

Deixa lá de lassidão

Pois de lassa já me basta

Essa casa de botão

Ai que falta que sentia

De sua casa, quando entrava

Tão novinha, arranhando

Que no fim do dia inchava

Ai que dor que lhe causava

Essa vil separação

A casinha reclamava

Não queria mais pressão

Mas depois se insinuava

Pro vizinho grandalhão

Isso sim que precisava

Carecia aperto não!

Mas a blusa enrugava

Exigia solução:

Ou a casa apertava

Ou trocava de botão

Seu Botão, então, chorava

Quis fazer musculação

A casinha se fechava

Pediu a separação

A Maria, irritada

Agiu com resolução

E, sem explicação

Foi pro quarto da empregada

Retirou o seu Botão

Costurando outro, Rosa

Tão enorme, uma invasão

Instalou-se poderosa

A casinha, então chorou

O botão quase a rasgou

E o outro, o miudinho

Foi pra blusa do Pedrinho

Lá, na blusa do menino

A casinha, muito altiva

Apertada era mesmo

Mas tornou-se possessiva

O botão, quando ele entrava

Era tudo uma delícia

Mas, quando ele se cansava

Se encolhendo, ela o prendia

Que casinha mais vadia!

E, ao dizer, se desculpava

Sempre que ela repetia

Pois sua goela sufocava

Enquanto a outra casinha

Só chorava arrependida

Com as pregas tão ardidas

Só ficava ali quietinha

Quando o Rosa se mexia

Já tremia, a coitadinha

Se ficasse boazinha

O botão não mais saía

Ele só que se exibia

O maior da blusa inteira

E tão rosa que floria

Como fosse uma roseira

Mas, Maria, um certo dia

Fez a troca dos botões

Costurou o botão Rosa

Na braguilha de um peão

Seu Botão, de volta à blusa

Onde tão feliz viveu

Mais feliz ficou agora

Que Maria o devolveu

Um pontinho em cada lado

A casinha costurada

Acolheu o seu Botão

Sem ficar tão apertada

A patroa que é gulosa

De repente engordou

Pro patrão, ficou formosa

Mas Botão se revoltou

E de nada adiantou

Pois com ela não tem prosa

A patroa, tão fogosa

Seu Botão não mais fechou

(Djalma Silveira)