ESCRAVO DO...

Já comentei em alguns versos,

Que a escravidão não acabou,

Ato dos mais perversos,

Que apenas se modernizou.

Mas há uma diferente,

Sem o serviço forçado,

É a do indigente...

" Indigente endinheirado ".

Parece contradição,

Mas existe esta " raça ",

Cujo Deus é o cifrão,

É até motivo de graça.

É o escravo do dinheiro,

Que passa a vida a guardar,

Pensa nele o dia inteiro

E só em economizar.

Conheci, pode acreditar,

Cada indivíduo sovina

E alguns casos vou contar,

Sendo um deles o da latrina.

Quando alguém da sua morada,

Tem vontade de urinar,

Desce a tampa da privada,

Sem a descarga lhe dar.

Só na hora de deitar,

Na derradeira urinada

É que a descarga vai dar

Para economizar...

Outro caso curioso,

Contou-me o próprio avarento.

Observa o firmamento

E, se o tempo está chuvoso,

Pega seus recipientes,

Enche com a água que cai,

Contempla a cena contente,

Pois a água, pagar não vai....

Tem a história do café

Do casal que é sozinho.

Como gostoso é

De manhã, café fresquinho,

Faz-se um pouco de café

E o resto que se esfria

No outro dia é requentado,

Pra fazer economia...

Eu tenho dó do coitado !

Esta já é gozação

Contada em minha cidade.

Nenhuma veracidade,

Fruto da imaginação.

O pão-duro existia,

A gente contava e ria :

Quando tinha enfermidade,

Pensando em economia,

Tinha a capacidade,

De o comprimido amarrar

Com linha de costurar

E depois que engolia,

Sabem o que ele fazia ?

Logo que a dor passava,

O comprimido puxava

Para que o aproveitasse

Quando a doença voltasse...

Amigo, não é mole, não !

Tem gente que é assim

E sabe que no seu fim,

Nada vai para o caixão !

Auro.