O POUSO DA ÁGUIA

(Publicada livro "30 CONTOS DIVERSOS - Causos de nossa gente - 2003 - José Aroldo Pinheiro)

Na década de 40

Roraima vivia isolado

Pra chegar por aqui

Só em barco de baixo calado.

Boa Vista era minúscula,

Na verdade pequena vila,

Tudo era acontecimento

Qualquer coisa mudava a vida.

Eis que o progresso chegou,

Nada mais será igual.

Teremos a partir de hoje

O Correio Aéreo Nacional.

Vamos ter por aqui,

Pela primeira vez,

Vôos regulares da FAB

Com modernos DC3.

Aquilo seria pra cidade

Um grande acontecimento,

Todo o povo muito feliz

Bispo, puta, juiz e sargento.

Todo mundo se aprontou,

Usando roupa domingueira,

Pra ver o grande avião

Pousando na cabeceira.

O campo de pouso ficava Onde hoje é a Ene Garcez.

O povo fazia festa

Pra conhecer o DC3.

Os homens em camisa de manga;

Alguns mais chiques: paletó.

A mulherada arrumada

De seda, renda e filó.

Naquele sol quente danado

Todo mundo engalanado

Pra ver o pouso da “ave”

Num evento inusitado.

E eis que o avião pousou:

Palmas, gritos, movimento.

A multidão vendo de perto,

De Dumont o grande invento.

O sargento da FAB,

Em grande excitação,

Convidou as autoridades

Pra visitar o avião.

Alguns percorreram as asas,

Outros visitaram o comando;

Meninos por baixo da nave,

Pessoas sentadas nos bancos.

Foi quando um cidadão,

Um pouco mais curiado,

Decidiu na nave fazer

Passeio mais detalhado:

Entrou pela dianteira,

Na cabine tudo ele viu,

Depois foi para o rabo,

E lá pra dentro sumiu.

Alguns minutos passados,

Voltou o nobre cidadão

Com a metade da manga do terno

Manchada da cor marrom.

Daí alguém perguntou:

“- Mas, seu Mauro, como foi isso?”

Ao que ele respondeu:

“- Meti a mão no cu do bicho!”

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Aroldo Pinheiro
Enviado por Aroldo Pinheiro em 08/06/2006
Código do texto: T171476