Café para o meu ego

Café para o meu ego

===============ErdoBastos

Garçom, por favor!

Passe um pano aqui na mesa

E ligue o ventilador

Pra me refrescar a beleza

E feche a janela deste lado

Que o calor está de rachar

Já estou bem encalorado,

Sem o sol pra me queimar

E me traga uma média com leite

Feita recém, não requentada

Três fatias de pão quente

Com manteiga bem espalhada

Por favor, traga também

Um palito e um guardanapo

Do modo como convém

A alguém de fino trato

Peço que também me traga

Que pode ser necessário

Um copo e uma jarra com água

Do tamanho de um aquário

E eu vou me inteirar das noticias

Lendo aqui o meu jornal

Saber do “grand monde” as malicias

Ver se saí na coluna social

Não deixe que ninguém incomode

O meu momento matinal

Ontem bebi até “mijo de bode”

E preciso voltar ao normal

E me dói o corpo todo

A cabeça quase explode

A boca tem gosto de lodo

E um tremor que me sacode

Só isto me cura a ressaca

Da bebedeira de ontem

Ou a enxaqueca me ataca

Antes que os neurônios voltem

E preciso estar bem, e depressa

Pois vou encontrar meu amor

E este mal, talvez me impeça

De satisfaze-la a rigor

Ela é uma mulher exigente

E está mal acostumada

E se eu não for eficiente

Pode não sentir-se amada

O que seria desastroso

E faria mal pro meu ego

Que tem um jeito manhoso

Se acaso algo lhe nego

E a maior satisfação

Que meu ego contém

É a fama de garanhão

Que o dono dele mantem

Eis aí a importância que tem

O papel do garçom nesta hora

Desabafo, me alimento e saio bem

Do jeito que meu ego me adora!

Café, leite, pão e manteiga

Desjejum que faz muito bem

Servido a rigor, e chega

Vale como terapia também