MEMÓRIAS DE UM BILAU APOSENTADO

Eu nasci em berço nobre,
fui criado com carinho,
já fui muito acanhado
quando era pequenininho,
mas com o passar do tempo
fui ficando danadinho.

Na minha adolescência
não tinha medo de nada,
era bastante afoito,
topava qualquer parada,
não escolhia a hora,
noite, dia ou madrugada.

Arisquei a minha vida
entrando em todo ambiente,
pra mim o que importava
era meu desejo ardente,
despido ou de camisinha,
pra mim era indiferente.

Mas com o passar do tempo
precaução era preciso,
não quero dizer aqui
que criei muito juízo,
simplesmente o que eu fiz
foi tudo que era preciso.

Passei a selecionar
sempre os melhores lugares,
evitando a todo custo
ambientes populares,
e em ambientes chiques
entrei assim em milhares.

Veio então o casamento,
um grande amor encontrei,
freqüentando um só lugar,
levando vida de rei,
e assim dessa maneira
feliz me acomodei.

Hoje aos oitenta anos
vejo meu corpo encolhido,
sou totalmente abraçado
por esse saco caído;
ando de cabeça baixa,
solitário e deprimido.

Vou seguido meu caminho
pelo mundo abandonado,
sem carinho, sem guarida,
mole e desconsolado,
levando essa triste vida
de bilau aposentado.