AMOR FAJUTO

Sentado no banco da praça

Já meio sem graça

Olho o jardim de flores esmaecidas

Clareadas por uma lua debilitada

Luz leitosa, já não inspira nem poeta de botequim

Penso no que passou e tenho pena de mim

Relembro quando a conheci

Do Sul sempre, ser dizia

Adorava acarajé, vatapá, rapadura era o só o que comia

O tu era vancê, o y era pisilone, g era guê

Mesmo assim tentava me acostumar

E essas barbaridades deixava passar

O importante era tê-la, sempre a querê-la

Passava por cima de todas as gafes

Um sutiã rasgado

Uma calcinha puída

Mas que isso importa

Sempre era jogada ao chão, atrás da porta

Não levo a sério, eu de andrejo

Todo roto, era meu gosto

Das estripulias cometidas no dia a dia

Pois meu desejo era todo têso

Qual músculos de nuvem passageira

Que rebola, faz cabriolas, mas é alvissareira

Sofrendo, roendo, correndo me esforçava

Para tudo a ela dar e seu amor cativar

Qual equilibrista, andava na corda bamba

Fazia firulas, quitandas, morria de vergonha

Poderia passar por idiota ou pamonha

Mas nada importava, só nela pensava

Quando achei que tudo estava certo

Tudo arrumado igual gaveta de virgem

Vem a notícia e sofro vertigem

Por uma coisa à toa, a minha última traição

Ela me abandonou. . . que decepção!

Agora os poros de minha alma explodem

Quais fogos de artifício

Me livrei de um certo estrupício

Que amor era esse, uai

Talvez amor do Paraguai.