O Bêbado

Um brinde,

Não importa o motivo,

Anime-se,

Algo aqui será bebido.

Estou de pileque,

Alegria fabricada,

Talvez assim sossegue,

A timidez é ludibriada.

Um gole nunca vem só,

Alterofilista de copos,

Uns dizem que bebe de dar dó,

Outros que é trauma de alcóolico.

Vamos festejar,

Que importa a substância,

Precisa embebedar,

Assim colhemos a bonança.

O importante é beber,

Melhor estar acompanhado,

Mas para se entreter,

Serve dar um trago solitário.

Mas socialmente é melhor,

Temos outros bêbados conosco,

O papo flui até sem assunto, isso é o pior,

Algum religioso diz: Deus esteja convosco!

Um gole pra mim e outro pro santo,

Santidade telúrica, a terra mama,

Outro dia bebi o da oferenda por engano,

Depois mijei devolvendo de forma profana.

Em igreja tem padre com bom vinho,

Sacerdote chega com sermão na ponta da língua,

Depois de umas bicadas fica tinindo,

Senta até no colo do Capeta só por causa da bebida.

E as mocinhas quando entornam,

Bebem mais que muito que se diz macho,

Umas ficam soltas e até rebolam,

Já vi garota engravidar por conta de porre baixo.

Eu tenho estilo, fígado calejado,

Pra ficar alegre precisa abastecer bastante,

Nos botequins provoca estrago,

Não dispensa um duelo de beberrantes.

Acordar deitado nas ruas,

O sol castigando o lombo,

Basta uma pinga graúda,

E logo tomo jeito e levanto.

Sem divisão de classes,

Pode servir das refinadas ou populares,

Umas sei que ardem,

Faz parte do sacrifício um suplício à parte.

Barriga chega ficar redonda,

Ainda mais conservada com cevada,

E a esposa pode dar bronca,

Quem resiste a uma boa noitada.

O sujeito enfia o pé na jaca,

Aliás, a perna toda se duvidar,

Fica mal falado na praça,

Dizem que é preciso endireitar.

É só ver aquele copinho de boteco,

Ou uma garrafinha com conteúdo agradável,

Senta e pede copo cheio, rasga o verbo,

O bebedor se torna entusiasta e sociável.

Nada de arrumir briga,

Sair quebrando estabelecimento,

Nem espancar a cria,

Ou atacar a patroa e causar sofrimento.

Basta o sofrer que lhe acompanha,

Mas que o álcool resolve feito remédio prescrito,

Com o cheiro o bebum já assanha,

Bebe-se em velório pra homenagear os que tiverem ido.

Os nomes então são arte do povo,

Rabo de Galo, Amansa Sogra, Néctar do Chupa Cabra,

Pau do Índio, Tapioca, tira até olho gordo,

Tem cidade com nome de Paraty, veja que chalaça.

Fale quem quiser, mas tem que ser patriota,

Vinho francês, pinga russa ou mexicana,

Mas boa é a cachaça de alambique da roça,

O resto é presepada de gringo metido a bacana.

Se estiver com disposição,

Coloca sem cerimônia a boca no gargalo,

Rasga a goela feito tição,

Depois acompanha um aperitivo salgado.

O sujeito tem que ter estilo,

Dar uma provada na safra de amigos,

Um bom limãozinho espremido,

No mais sergio-buarque-de-holanda-cordialismo.

E o copinho miúdo é de um trago só,

Com direito à tapa na beirada do balcão,

Não existe época, faça chuva ou faça sol,

O beberrão nunca se faz contido na degustação.