O Compadre Bento
O cusco, um velho perdigueiro,
me acordou de madrugada,
parece, que na palhada,
ele viu um vulto ligeiro...
entre nervoso e faceiro,
ia e vinha num segundo,
e a lua cheia lá no fundo,
tornava tudo estranho,
e num latido forte, medonho,
o cusco, via vulto de outro mundo...
Eu que ja vi coisa feia,
lobisomen, boi tatá e pererê,
mas ainda não vi nascê,
um sujeito com gelo na veia...
porque hora e meia,
aparece um novo valentão,
que enfrenta assombração,
mas ao invés de valentia,
sossega, se arrepia,
treme tudo e dispara o coração...
E fiz as contas meio apurado,
seis dias , talvez sete,
e a lembrança me arremete,
ao enterro de um amigo finado...
E assim matutando, calado,
pensei numa alma penada,
que foi antes da hora marcada,
mas retornou onde viveu,
pra buscar o que é seu,
em plena neblina da madrugada!
Me correu um raio na espinha,
quando o cusco saiu correndo,
depois que um clarão horrendo,
do escuro de uma capoeira vinha...
Fugiu a razão que eu tinha,
e com olho arregalado,
fiquei meio desnorteado,
sem saber de que lado eu via,
rezei tremendo, uma Ave Maria,
e esperei a volta do sepultado...
Fiquei imaginado de que jeito,
com que roupa viria o defunto,
que tipo teria de assunto,
e que cheiro teria o sujeito...
Matutei assim, algum mal feito,
e se sua alma viria sozinha,
e se reconheceria a minha,
e os segundos eram eternos,
pareciam o frio de mil invernos,
mas era só uma pegadinha...
Grrrrrrrrrrrrrrrrr
Malgaxe