A ASSOMBRAÇÃO
E O PESCADÔ

 
 
Tem tanta coisa nesse mundão
Qui oceis nem pode carculá!
Tem coisa de assombração
Qui faiz inté rupiá.
Foi pertin da bera do mar
Qui tudo acunteceu
É qui sô marujo pescadô,
Cum o qui me acunteceu

Eu cumecei a rezá.

Modi  que era tarde

Era quais meia noite
Qui eu tinha ido pescá
Iscutei um assubio
E danei a prucurá
É qui eu fiquei assustado
Sinti as perna bambiá
Oiei pra tudo qui foi banda
Nun cunsigui inxergá
Pensei in saí correno
Num cunsigui nem andá.

Casquei um berro bem arto
Preguntano quem é ocê ô diaxo
Num tem corage de aparecê
Seu covarde paiaço
Dispois deu outro assubio
E uma risaiada orrorosa
Guspi, di lado e rosnei
Vem cá trem isquisito
Qui eu vô parti ocê pelos mei.

Quando oiei prá frente
Minhas ropa quase sugei
Era um home vistido de preto
Cum labareda nos oi
Mi binzi... cruizin credo
Quase murri do coração
Proque pro mais um mucadin
Qui eu me invergava no chão.

Vergonha di contá proceis
Sas coisa eu num tenho não
Ele me pidiu um cigarrin
Eu dei prele um pito de paia
Ai meu são Jesus cristin
Nunca vi sombração pitá
Inquanto dava baforada
Foi saino dei finin.

Sumiu no mei do mato
Nunca mais apareceu
E eu morreno di medo
Peguei di vorta a estrada.
Fui contá pra minha muié
Ela num quis querditá
Dizeno qui isso acuntece
É só cum quem num tem fé.

Um trem desse só acuntece
Cum pescadô qui num se ajeita
Qui num reza antes di i pescá
Foi quando ela viro pra trais
Cum os oi arregalado
Ela mi cutucô
Zé...  oia o home di preto
Diz qui qué di novo pitá.

Daí eu qui sô maxo
Mandei ele entrá e sentá
Ele mi disse num posso
Proque tenho qui vorta
Pro cimitério onde moro
Lá é qui é meu lugá.
Largô o pito na mesa
E num sigundo evaporô
Dispois disso nunca mais ele vortô!
 

 







 
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MARLLENE BORGES BRAGA