As Doidas que me Avizinham
Moro onde Tu,
Loucura,
governas e sou rodeado por suas inquilinas.
Sempre obediente à vossa senhoria,
igualmente Doidas.
A Doida de baixo,
em cada época é acometida de megalomanias
e de talentos que jura verdade:
Organista, abre as portas e janelas
e todos têm que ouvir seus desconcertos
de notas em desarmonia, por exemplo;
outras se põe a rezar e cantar ladainhas.
A Doida da direita,
grita o dia inteiro:
“Matheus, Matheus, Matheus”
“Matheus, seu ba.ba.ca”.
(Coitadinho de Matheus, se...)
Se eu, em pensamento, não completasse:
“mal teus, mal teus, mal teus
E não meus!”
“Matheus, seus filisteus:”
“Mate-o, mate-o, mate-o!”
A Doida da esquerda,
dona de uma cachorrada,
que pontualmente às onze horas
e nas que madrugadas são
se põe a latir, ladrar e esgoelar.
E aí começa, a Doida, a gritar
os nomes das pobres diabas:
“Xereca!”
“Brecheca!”
“Taxeca!”
...e eu não sei defini-los certos de tamanha balburdia.
A Doida da frente
Solta suas gar-ga-lha-das horrorosas.
São gargalhos de bruxa.
(às vezes até penso que ela é
a Madrasta da Branca de Neve
ou uma das personagens
da Maria Clara Machado).
Sobre minha cabeça tenho duas,
Duas Doidas
(não uma, o quê já me bastaria)
e nenhuma se chama Maria.
Mãe e Filha conversam com a cadelinha
de estimação ou com as caninas da esquerda
como se fossem dengosas “Ninas”.
E aos domingos discutem
Psicologismo, Filosogismo e Medicismo.
“Fulano é isto!” “Sicrano é aquilo!”
E eu sou psicótico, segundo seus diagnósticos!”
Ninguém escapa aos rótulos
Das páreas enlouquecidas.
Sortudo como sou,
ainda tenho a Doida que mora comigo.
Quando não está com suas crises
de mal-humor bipolar
fazendo tromba,
está dando chiliques de possessão.
Contemplado como sou pela Sorte,
Meu íntimo,
Meu Eu,
Meu Mim Mesmo
É regido pela insanidade:
devaneios como este.
MALDIÇÃO,
a L.O.U.C.U.R.A. escolheu-me como seu cidadão honorário!
L.L. Bcena, 19/11/2011
POEMA 006 – CADERNO DAS MALDIÇÕES.