Hábeas corpus
De repente caí em mim:
O que era afinal
senão uma pessoa afim
dos valores e da moral?
O que era senão
um reflexo perdido
de todo coração
assim triste e ferido?
O que era então,
além de poetisa
além de profetiza
de profunda solidão?
De repente caí em mim
e me enxerguei assim:
Uma pessoa colossal
De alegria desigual
Uma pessoa de alma
jurídica e constitucional!
Sempre me vi desvairada
correndo atrás de informação;
mas não sabia que no fundo
era advogada da minha
própria vida em questão!
Sempre me vi passageira,
indiscutivelmente indecisa.
Agora me vejo inteira
e profundamente precisa.
Sempre me vi jornalista,
Ou historiadora,
Confundi euforia mista
com minha mente sonhadora.
Agora me vejo segura de atos,
de pensamentos e filosofias.
Agora me vejo liberta
de minhas próprias hipocrisias...
Me vejo com voz altiva
segura de minha missão.
Me vejo juíza
e uma crítica de antemão.
Me vejo esperta, me vejo audaz
Me vejo liberta e eternamente fugaz.
De repente movi uma ação
contra meu próprio viver;
Consegui hábeas corpus
para o meu próprio fugitivo ser.
Agora sou assim:
Advogada de mim.
Falo sério:
Descobri minha predestinação
Descobri que o jeito
eloqüente de ser era
indiscutível missão...
Agora que venham os tribunais:
Sou dona de convicções
Moralmente legais...