Hábeas corpus

De repente caí em mim:

O que era afinal

senão uma pessoa afim

dos valores e da moral?

O que era senão

um reflexo perdido

de todo coração

assim triste e ferido?

O que era então,

além de poetisa

além de profetiza

de profunda solidão?

De repente caí em mim

e me enxerguei assim:

Uma pessoa colossal

De alegria desigual

Uma pessoa de alma

jurídica e constitucional!

Sempre me vi desvairada

correndo atrás de informação;

mas não sabia que no fundo

era advogada da minha

própria vida em questão!

Sempre me vi passageira,

indiscutivelmente indecisa.

Agora me vejo inteira

e profundamente precisa.

Sempre me vi jornalista,

Ou historiadora,

Confundi euforia mista

com minha mente sonhadora.

Agora me vejo segura de atos,

de pensamentos e filosofias.

Agora me vejo liberta

de minhas próprias hipocrisias...

Me vejo com voz altiva

segura de minha missão.

Me vejo juíza

e uma crítica de antemão.

Me vejo esperta, me vejo audaz

Me vejo liberta e eternamente fugaz.

De repente movi uma ação

contra meu próprio viver;

Consegui hábeas corpus

para o meu próprio fugitivo ser.

Agora sou assim:

Advogada de mim.

Falo sério:

Descobri minha predestinação

Descobri que o jeito

eloqüente de ser era

indiscutível missão...

Agora que venham os tribunais:

Sou dona de convicções

Moralmente legais...

Andrea Sá
Enviado por Andrea Sá em 22/01/2007
Código do texto: T355711