A Balada do Corno
Melhor ser corno do que não ser nada,
Que não pilhar um dia em sua cama,
Aquela mulher, a quem tanto se ama,
Nos braços do rival, toda enlevada.
E nesta cena, horrenda de se ver,
A mais dolorosa constatação
É que é nos braços do tal maguarão
Que ela sente duas vezes mais prazer.
Da galhada amiga brota a consciência
Que falíveis somos nós nesta vida,
Vem nos lembrar a narcisa ferida
E tripudiar com a nossa impotência.
Portanto, amigo, não tenhas receio.
Encara tudo isso de mui bom grado,
Pois, mesmo o boi, o gamo, o alce ou o veado
São seres respeitados em seu meio.
Ouve o bom conselho, não chora, aceita.
Por mais que a fisgada a fronte te doa,
Recebe este ornato como u’a coroa
Que te enobrece a alma e a cabeça enfeita.
E, assim, como um rei clemente, agradece
Àquele que, com maior engenho e arte,
Tomou teu posto, fez a tua parte.
Que outro leal amigo acharás como esse?
Tua mulher? Aquela santa? Perdoa!
Que culpa terá ela se a natureza
Deu ao moço tamanho pé de mesa,
E a ti legou esta coisinha à toa?
Então, amigo, orgulha-te do adorno,
Que bem mereces. E, se ouvires troça,
Ignora, não liga, faz vista grossa.
Vive feliz tua condição de corno!
Rio, 2007