À espera do príncipe

De lânguido e altivo olhar

Ela mirava o horizonte...

Acreditava em contos,

Romances, filmes, novelas e fábulas;

Rezava empedernidamente.

A qualquer momento surgiria

No seu horizonte particular,

Era só esperar; todas merecem

Um príncipe, um cavalo branco,

Um palácio, com ama seca,

Cavaleiros, Sogra rainha, bobo da corte;

Até madrasta peçonhenta e vilã

Poderia vir no pacote;

Com sua vilonice e tudo. Da nada não.

No fim tudo acaba bem mesmo.

Odiava gente feia até à alma.

Até que um dia, como por encanto,

Surge um terra-seca em seu jumento

Desencantado e com cara de fome.

Empaca na frente de sua janela,

Dá um sorriso desdentado,

Solta uma praga de urubu;

Ela não é cavalo gordo. A praga pega.

“O caba rim do norte”. Brilha.

A espera era tanta, e a praga tão forte,

Que o “caba esgualepado”

Mufino e raquítico, pareceu forte;

O molambento parecia vestir -se de

Púrpura aveludada e carmim.

Um príncipe do avesso.

Hoje ela mora na caatinga

Cercada de cabecinhas achatadas,

Choronas, catarrentas e barrigas de lombriga.

A cegueira encantada do amor venceu.

E ela, gatinha pelega? Se fudeu.

carlinhos matogrosso
Enviado por carlinhos matogrosso em 19/10/2013
Reeditado em 22/10/2013
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