O Sítio do Pau Seco

Depois de transitar pelas escarpas rochosas,

Vales sombrios e desertos intransponíveis,

Eis que chegamos ao sítio do pau seco.

Num ímpeto glorioso de menina moça,

Lá vai a Tina Tinna Mara de Camargo,

Toda saltitante e feliz; ela queria abrir a porteira,

Em um mais puro e singelo ato

De escoteirice compulsiva.

Por uns instantes pude ver a vovó

Olhando por sobre os óculos de grau,

Em um desejar profundo de ver a netinha,

Senti o cheiro do bolinho de chuva fritando

E do café coando languidamente.

Vi a cuca com sua acucarada cuquice

A esperar sobre a mesa;

O totó vinha rebolando frenéticamente,

Tentando expor toda a sua alegria

Já que o vovô lhe cortara o rabo.

À esquerda, a uns cem metros,

Um cata vento, catando em vão os ventos

Soltos, arredios e incautos da moenda.

O papagaio, de saudade calou-se,

Boquiaberto, emocionado, engoliu o "currupaco".

Silêncio no arvoredo... Calmaria no recanto...

Aquela estranha aflição que

Precede às grandes explosões de alegria

Que só acontece em Bervely Hills.

A natureza que, perpetuamente em festa

Jazz silente e com expressão de espanto.

É que a inesperada donzela

Ao arremeter-se num arroubo de frenética alegria

Sobre a pobre e solitária porteira,

A fez em pedaços de madeira podre e evasiva,

Trazendo a triste e meloncólica destruiçao

Ao recamto verde, remoto, calmo e feliz.

Meus devaneios se foram como água pelos vãos,

Não mais vovó, nem cuca nem totó;

tampouco o lânguido café coando,

Apenas o caseiro com seu alto grau etílico

A relatar que a fama da doce donzela a precedia,

E que tinha sido um dádiva de Deus essa diva.

E embaixo dos caracóis dos seus cabelos,

Se acaso eles existissem, ficaria apenas

Uma história pra contar de um mundo tão distante.

carlinhos matogrosso
Enviado por carlinhos matogrosso em 11/11/2013
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