AVÓ BANDIDA
Nasci num pobre casebre.
E a minha mãe cheia de febre,
deitada em cama dura,
bebendo chá e água pura.
Mas, remédio não tinha, não.
O que fazer então?
Meu pai todo alegre e faceiro,
pegou-me no colo ligeiro.
Foi logo me registrar.
Ainda tinha que ir a igreja,
depois de uma cerveja,
marcar pra me batizar.
Vejam como é triste a minha vida.
De nascer estou arrependida...
No batizado foi uma vergonha
e senti raiva da tal cegonha!
Meu padrinho tossindo,
que a saúde ia indo...
Queixando-se de dor na junta,
chega ao altar e pergunta:
_ Me diga logo, essa reza, quanto é?
O pastor responde: _ Aqui só vale a tua fé.
Depois, fomos pra casa.
E meu pai quase se atrasa,
precisava trabalhar.
Tinha uma família pra sustentar.
O tempo foi passando e eu crescendo,
apesar de difícil, ia vivendo.
Chega a época da escola
que eu passei com muita cola.
Mas isso não é o pior,
meu pai sempre fez o melhor.
Minha avó é que não saia do meu costado.
Pior que chiclete no pé grudado!
Feito fera gritava pra meio mundo:
Chispa fora, que essa é minha neta.
E ainda era mais direta,
dizendo: _ Vai-te embora, vagabundo!
E lá ia eu, com o coração despedaçado,
pensando como arrumar um namorado,
se a velha a todos amolga,
sem me dar nenhuma folga.
Um dia apareceu um puxa-saco
não sei se da terra ou do mato,
mas foi com ela conversar...
E pra minha desgraça,
ela disse: _ É com ele que vai te casar.
Eu só tenho 15 anos, muitos sonhos e planos.
Mas, a velha já está arrumando os panos,
pra bem de sair o casório.
Que antes fizesse meu velório!
Agora, com pesar profundo,
o que eu queria lá no fundo,
que o meu coração implora,
é sair por esse mundo afora.
Mas não tem jeito, não.
A velha confiscou até meu alazão.
E o que não tem remédio, remediado está.
Já tá chegando a hora, vou ter que me casar.
Tânia Regina Voigt
(Essa poesia foi publicada no
Planeta Literatura em 29/03/07)