SOGROFOBIA

Jovem, bem jovenzinho ainda,
Compareci ao meu casamento.
A noiva era tão nova, tão linda,
Eu tão ainda imberbe jumento...

Meu futuro sogro, contrafeito,
Ouviu-me responder ao padre:
“Aceito. Não tem outro jeito..”
Riu-se, disso, na cara, a comadre.

Casados, unidos por laços oficiais,
Lá fomos eu e ela para nosso lar,
Pensando que amaríamos em paz,
Sem da amada sogra nos lembrar.

Bastou ficarmos como Adão e Eva,
À vontade como sempre sonhamos,
E um enorme susto quase me leva,
E da cama nós dois juntos pulamos.

Era a bendita sogra, a prestimosa,
Que viera roupas para ela trazer,
Perguntando, toda mui atenciosa,
O que estávamos nós dois a fazer.

Minha mulherzinha fez-me calar,
Tapando co´a mãozinha minha boca:
“Estamos, minha senhora, a transar,
Agora caia fora, velha besta e louca..”

Primeiro ato aquele, de meu suplício.
Agüentar por anos aquela senhora,
Por amor à filha, fiz o tal sacrifício,
Mas chegada certa altura, caí fora.


“A mamãe é uma pessoa maravilhosa...
Você precisa procurar entendê-la...
Ela tem bom coração, tão prestimosa,
Você ainda não chegou a conhecê-la...”

Não cheguei mesmo a conhecer a velha,
Tão prestimosa, boazinha e fofoqueira,
Que, humilde como verdadeira Amélia,
Fazia, discretamente, a minha caveira.

Por essa e por várias outras, confesso,
Que sofro de bem intensa “sogrofobia”,
Agora é a primeira informação que peço:
“A minha possível amada, mãe ainda teria?”
Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 08/07/2007
Reeditado em 08/07/2007
Código do texto: T556765
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