Malandragem Tupiniquim

Segunda ele vai trabalhar

Com fé em Deus e esperança no olhar

Terça faz serão

E diz que o doutor é o melhor patrão

Quarta, dia de torresmo com feijão,

Esparrama-se na cama e faz amor com paixão

Mas quando chega na quinta

O malandro logo se agita

Rapidinho muda de idéia

E chama a patroa de Mocréia

Na sexta vai pra farra com a mulherada

Chega bêbado e de madrugada.

Fala mal do patrão

Pergunta pela empregada

E diz que a gostosona só lhe serve marmelada.

Escala a Seleção e diz que é bom de bola

Mas se vai bater o pênalti,

Sai correndo, vai embora.

Sábado e domingo

Cura a ressaca apostando no bingo

E no dia do seu santo padroeiro

Se barbeia, se perfuma, fica brejeiro.

E como todo fiel que se preza,

Faz retiro e apenas reza.

Mas na manhã seguinte quando acorda

Se pergunta: e agora?

Mira-se no espelho, bate no peito com coragem

E se diz a reencarnação de Bocage.

Dá licença que tem mais um

Aqui tá assim de 171...

São Paulo, 1997

Cátia Paiva
Enviado por Cátia Paiva em 20/10/2005
Reeditado em 27/11/2005
Código do texto: T61581