À MADALENA
À MADALENA
Tua carta, Madalena,
recebi; na qual, sem dó,
tu me pedes que, sem pena,
eu castigue o meu totó.
Por te haver passado o dente
nessa perna que me mata,
tu me pedes, inclemente,
tu me exiges que lhe bata.
Dar, bater no pobre cão
é grande insensatez.
Fá-lo-ia, se ele não
tivesse feito o que fez...
Para mim, a culpa é tua,
minha linda melindrosa,
exibindo pela rua
uma perna tão gostosa.
O castigo que é proposto
fica, pois, fora de assunto;
o cachorro tem bom gosto:
também gosta de presunto.
Depois, totó é totó;
seja fino ou seja grosso,
mocotó é mocotó:
toda pernoca tem osso...
Por não haver o cãozinho
resistido ao teu pernão,
queres que eu dê o bichinho?
Que ausência de compreensão!
Dar no bicho? Ave-Maria!
nessa falta não incorro.
O que ele fez eu faria
- mesmo não sendo cachorro...
Autor: Nestor Tangerini [Bergamota].
Publicado no jornal A CAPITAL, em 1926.
Arquivo da Família Tangerini.