À MADALENA

À MADALENA

Tua carta, Madalena,

recebi; na qual, sem dó,

tu me pedes que, sem pena,

eu castigue o meu totó.

Por te haver passado o dente

nessa perna que me mata,

tu me pedes, inclemente,

tu me exiges que lhe bata.

Dar, bater no pobre cão

é grande insensatez.

Fá-lo-ia, se ele não

tivesse feito o que fez...

Para mim, a culpa é tua,

minha linda melindrosa,

exibindo pela rua

uma perna tão gostosa.

O castigo que é proposto

fica, pois, fora de assunto;

o cachorro tem bom gosto:

também gosta de presunto.

Depois, totó é totó;

seja fino ou seja grosso,

mocotó é mocotó:

toda pernoca tem osso...

Por não haver o cãozinho

resistido ao teu pernão,

queres que eu dê o bichinho?

Que ausência de compreensão!

Dar no bicho? Ave-Maria!

nessa falta não incorro.

O que ele fez eu faria

- mesmo não sendo cachorro...

Autor: Nestor Tangerini [Bergamota].

Publicado no jornal A CAPITAL, em 1926.

Arquivo da Família Tangerini.

Bergamota
Enviado por Bergamota em 27/12/2017
Reeditado em 27/12/2017
Código do texto: T6209631
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