A GATA BORRALHEIRA
Levava uma vida de escrava, servindo como empregada.
Não tinha aspirações, só trabalhava e não ganhava nada!
Uma verdadeira lacaia, sem defesas ou direitos,
Limpava, varria, escovava e envernizava os parapeitos!
Tirava poeira, sobremaneira, pois onde morava,
O chão era de terra e o pó, só levantava!
Uma coisa insana, viver assim, sem nunca lamentar,
Pois achava que era seu destino, sofrer sem nunca reclamar!
Só tinha uma vantagem sobre as filhas da Patroa:
Tinha os pés rústicos e nada virtuosos, embora muito pequenos.
Suas companheiras viviam a gargalhar e passar o dia à toa.
Quem sabe, algum dia, iriam se arrepender e, não seria para menos!
A Fada Madrinha, um dia lhe surgiu,
E, como num conto de fadas, lhe garantiu:
Quando bater meia-noite, uma carruagem aparecerá
E adentrando nela, sua vida para sempre mudará!
Suas roupas sujas e bolorentas, serão trocadas,
Por maravilhas de sedas e todas bordadas.
Serás a companhia do Príncipe Encantado,
Quando o dia clarear, todavia, terás de ter voltado!
Senão, tudo o que te foi conferido,
Sumirá, como a história de um partido,
Que um dia achou que já era grandioso,
E acabou se perdendo, por se achar o Todo Poderoso!
Ao romper os primeiros raios de Sol,
A Borralheira saiu na disparada para voltar,
Tropeçou na escada e deixou um de seus sapatos escapar.
O Príncipe, sobressaltado, usou o mesmo, como um farol,
Buscando a que seria sua eterna Princesa,
A mais bela de seu território e da própria Realeza.
A que seria para sempre sua amada e Rainha
Do seu reino encantado e protegida pela Madrinha.
Como descobrir, no entanto, onde sua amada se escondera?
Daria sua alma para desvendar esse mistério,
E passou a visitar todas as moças de seu ministério,
Com o sapato em mãos e uma enorme gana, quem pudera?
Ao visitar a casa da Gata Borralheira, as filhas
Da Dona foram as primeiras a se apresentar.
Mas, não fizeram maravilhas,
Pois seus pés eram grandes demais, nem valia a pena tentar!
Borralheira num canto, nem se aproximou,
Pois sabia que tudo era um conto e talvez uma brincadeira!
Mas, o Príncipe a buscou e o sapato ela experimentou
E, num instante, a história ficou verdadeira!
Foi com o Príncipe para o castelo,
De onde reina, agora, junto a seu amado,
Distribuindo pregos, sem entregar o martelo,
Fazendo desfeitas por todo o Principado!
Assim, termina a história sem final feliz.
Pois, na vida da gente, é sempre o que acontece:
Poucos enriquecem e levantam o nariz,
Enquanto a maioria é esmagada e só padece!