DANÇA EPIDÊMICA

Quando Frau Troffen, depois Jurema Lopes,

Saíram às ruas girando em spins contrários -

Exatamente ( e o futuro diria) como une atome-

Seu Jacó e François, feito dois ciclopes,

Levaram ao riso monsieur Olegário,

Que bradou aos ventos,"Agora bato-me!"

Madame Ondine, saltitante, lembrou cabrita

E a amiga Albertine disse ali consigo :

"Sim, apago a vela acesa à Santa Rita

E entro na dança e danço até o jazigo!"

Dona Iris falou aos botões "Agora saracoteio !"

E o coração de todos unido e levado ao rito

Levou a alcoviteira a dizer : "Que bonito!"

Pierre exclamou "Agora requebro-me inteiro!"

Sol E Lua assistiram o show neurótico,

Um dançar que parecia sob um narcótico.

O duque e a corte, deveras preocupados,

Tomaram a decisão mais inteligente,

Buscaram a Ciência e os médicos que, aos brados,

Alvitraram:"Dança natural... do sangue quente."

A multidão bramia os ossos ilíacos.

Músicos convocados para o certame.

Houve cessares, não curas,pelos ataques cardíacos,

Mortes pela exaustão ou por derrames.

P.S.: Baseado em fato ocorrido em Estrasburgo, França, em 1508, quando pessoas passaram a ensaiar passos de dança sem parar por um mês nas ruas. Os médicos descartaram que fosse algo sobrenatural e recomendaram que fossem até incentivados a prosseguir. Não se tratava de dança convulsa, mas lenta e cadenciada. Até hoje ignora-se a causa dessa histeria coletiva. Dois séculos antes, na Bélgica,aconteceu o mesmo, mas não há documentações que o provem.

Camilo Jose de Lima Cabral
Enviado por Camilo Jose de Lima Cabral em 11/05/2020
Reeditado em 11/05/2020
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