Enzo Alcântara

Da família Alcântara, sou o Enzo,

Do: "Saravá!". Eu não me benzo…

Tattoo tribal e trança nagô.

Me auto declarei no último censo,

Preto sim, pelo menos penso…

Senhor de engenho? Foi meu avô.

"Sou Flamengo e tenho uma nega chamada Tereza"

Apesar da riqueza…

Sou um simples homem do povo.

Château Lafite, caviar, entretanto,

Bebo cachaça, derramo pro santo…

Como chouriço, torresmo e ovo.

Papai, não quero terno e gravata!

Prefiro guia no pescoço e bata…

Saiba, já tenho até meu orixá.

Jiu-jitsu? Sou da capoeira Angola,

Curto rap, funk, jogo bola…

Rodas de samba: "Laiá, laiá!

Meus parças? Afonso e Pietro,

Mas também tenho um amigo preto..

É filho da empregada, da família.

O trato com todo o carinho,

O apelido de "Buiú", "Neguinho"…

Sem "mimimi!", ele aguenta pilha.

"Palmito", "Vela", "Branco Azedo",

Discriminação sofro desde cedo…

Mas sou "Namastê!", Relax.

Do diálogo sou, não um ogro,

No racista não quero tacar fogo…

Não gosto do método do Malcolm X.

Da família Alcântara, sou o Enzo,

Do: "Saravá!". Eu não me benzo…

Tattoo tribal e trança nagô.

Me auto declarei no último censo,

Preto sim, pelo menos penso…

Senhor de engenho? Foi meu avô.

Por favor, menos dedo em riste!

Cá entre nós, racismo não existe…

O maior racista somos nós, negros.

Dura? Tiro? Dão em gente suspeita!

A polícia sempre me respeita…

Sem vitimismo, sigo no sossego.

Fumando "um" made in favela,

Pulseira verde, vermelha e amarela…

Praticamente um rastafári.

Admito certa confusão geográfica,

Fui à vários países do país África…

Voltei às raízes num divertido safári.

Sim, estudei nos melhores colégios,

Mas por méritos, não privilégios…

Que conquistei tão boas notas.

Sem esses subterfúgios raciais,

Se eu fui, você também é capaz…

Ninguém aqui precisa de cotas.

Sem essa de apropriação cultural,

Pô, a gente aqui é tudo igual…

Quem pensa contrário se engana.

Racismo reverso: Chega!

Não precisamos do Dia da Consciência Negra…

Sim do Dia da Consciência Humana.