AS CALÇAS DO FRANCISCANO

AS CALÇAS DO FRANCISCANO
Jorge Linhaça

Conheci um dia um sujeito
que se dizia um franciscano
muitos o achavam perfeito
e ai residia seu engano.

Era um tal de musas eleitas,
a cada verso proclamado,
medir mãos e pés nas saletas
com o dileto ser premiado

Mas pasmem os senhores
e me digam se tenho razão...
Quem faz voto de pobreza,
vida frugal e parca mesa
das vaidades abre mão...

Como pode um franciscano,
assim auto-denominado,
pedir do mais caro pano,
ser com calças presenteado?

Dizi-me lá ( se puder) onde anda,
portanto, a sua galardia...
quem se esconde à sotana
só transpira hipocrisia.

Mas já não espero nada,
desse sujeito, quem diria...
Ao ver a máscara arrancada
esconde-se na covardia!

São essas coisas, eu digo,
que me fazem amar o Bocage,
não fugia dos seus perigos
e nem lhe faltava a coragem.

O pobre Augusto dos Anjos,
há de virar-se na sepultura,
ao saber de tal escandalo
do pupilo sem compustura!

Se ,as calças, calças, franciscano,
pedidas às musas entusiamadas
diga-me lá d'onde veio o pano
da tua batina já tão desbotada.