Aos doentes e abandonados.
I
Como eu assim tão mesquinha
E esclarecida que não faltará
Tempo de sobra
Não mudará o veneno da cobra
E tudo o que por aí se cobra
É sermos alguém que nem sequer
Merecemos! Melhora! Falta nada, só escolhas
Escoltadas por alguém maior.
II
Aos ausentes da saúde:
Aos inocentes da barra dura
Não se preocupem em falar
É importante ouvir e não ser artista
É fatal ser artista!
Que nem falam aos normais
E nem pensam como eu.
Mas sabem que mentem
E já não posso entregar mais nada.
III
Aos carentes abandonados:
E ainda contentes por maus tratos
Antes ser morador das vilas sujas
Catador das ruas e vielas imundas
Que ser um poeta.
E ser um técnico, um médico
Um profeta que se renega
Em nome de Deus.
Antes ser o próprio deus
Em favor e nome dos seus.
IV
Aos que são como eu:
Não por sofrer ou querer o que não há
Posso afirmar que não há aquilo que não
Exista, que não se faça existir
E assim que não quero pensar
O pensamento me vem como um turbilhão
Um mundo de planos e enganos
Creio que a doença seja crônica
Creio que pouco tempo me resta
V
Pouco presta de tudo que deixei
As marcas meio apagadas
Não são consideradas marcas
As etapas de cada palavra serão estudadas
E devolvidas ao silêncio
Intituladas inúteis e incompreensíveis
Marcadas pela falta de calma
Pois engoli tudo o que pude
E ainda falta espaço em meu peito
VI
Falta tempo em meu leito
O tempo de sobra não me renova
E nem contempla meus dedos
Se ausenta por uns tempos
Escondido pelos bares que nem freqüentei
A ouvir conversas vulgares
Dos palhaços que apostam nos risos
E minhas lágrimas não param
Como um rio violento
Detento pelo medo da solidão
VII
São esses meus votos aos sofridos
Abstratos risos e ruídos
São mesmos filhos vencidos da dor
Abandonados pelo orgulho de não ter ninguém
São esses meus versos brancos
Sem mantos para abrandar o frio
Sem santos para rezar horas a fio
São versos travados na indiferença
De meu poema mais perfeito.
s7
**/**/09