"O inferno são os outros"

Às vezes, a gente não pensa, a gente não sente.

Às vezes, a gente não pensa, a gente não sente, a gente não vê,

o que está do lado da gente;

E enxerga longe, problemas inexistentes;

E os afaga e se amarra;

E perde noites de sono.

E dias de sol em contas,

que jamais serão pagas,

em filas, em reclamações inúteis.

Conjeturas obssessivo-compulsivas,

repulsivas.

Às vezes, a gente exige, a gente grita, a gente se irrita;

a gente é vítima sem saber por quê?

E se vinga, maltrata, se mata, por nada.

E cumpre rigorosamente os horários,

andando com pressa a lugar nenhum;

pois, que cumpre, tarefas inúteis,

estressantes, alienantes, revoltantes.

Aviltando-se em um salário surreal.

E distante e distante e distanciando-se,

a gente é apenas só apenas.

Apenas um, apenas nada, apenas pobre.

Apenas o esquisito, o solitário, o antipático, o tolo...

E sem saber, intuitivo tolo,

fez tudo certo

Pensou para não pensar,

sentiu para não ver, apenas.

Enxergou longe.

Conjeturou.

Gritou.

Foi vítima.

Cumpriu todos os horários;

e horas-extras também.

E obsessivo-compulsivo-repulsivo

Pagou todas as contas.

Regina Martins Vita
Enviado por Regina Martins Vita em 11/06/2009
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