Fundamentos antropológicos

Fundamentos antropológicos agora são meros rabiscos:

veja a nossa dignidade vomitando no meio-fio...

percepções macabras onde nos refugiamos –

“aquela luz suja traiu-nos novamente”.

Tudo é tão incompleto

e nos envergonhamos de completar.

Tudo é superficial

nos toques e carícias,

coreografias cibernéticas entre paredes finas

e paredes finas me perturbam...

Revestir o impulso é biológico,

mas psicopatologizamos o que não entendemos

– e quem poderá entender?

Sinto ter de dizer

e por isso não digo,

guardo em minha respiração

até chegar em casa,

corro direto para o quarto e escrevo

os fundamentos do que sinto.

O que sei me rasga a alma

e, se os cortes chegam a fechar,

ainda há motivos fortes pra gritar

e fito o finito

do seu mais meigo olhar

e procuro o que irá durar,

viro você do avesso

até encontrar a pérola da discórdia,

emolduro-a junto ao coração das minhas trevas

e rio do destino:

um macaco cometeu o desatino

e um anjo cai

sobre sua cama imunda.