Esquizofrenia: uma apologia

Quem saberá do mundo que vivemos?

Das vozes que ouvimos, das perseguições que fugimos?

Serão vocês médicos arrogantes, que nunca passaram

pelo inferno de nossas dores?

Questionam-nos o que é realidade e nós perguntamos:

- Sabem o que são as linhas paralelas que correm

a rivelia de vossa pseudo-ciência?

- Sabem por que caminhos nos levam os tãos milagrosos

remédios? Anestesia para a loucura?

- Não... Conforto para vocês que querem ser normais.

Quem é que se engana? Nós com nossos elefantes

voadores, ou vocês com seus jalecos imponentes?

"Nossa mãe é aquela enfermeira ali. Tão bela,

graciosa, tem até o sorriso da maternidade."

Vocês não enxergam? - São tolos! Só tem olhos para

prontuários e saem daqui confiantes que vivem

uma vida sã, que dominam seus pensamentos.

Chegam até a acreditar que suas esposas, em casa,

os amam, só porque não montam quebra-cabeças,

não falam com estranhos, vivem nesse mundinho oco,

disfarçado de realidade.

- Ó tolos! Sejam só um pouquinho mais críticos

de si mesmos. Perguntem-se quantas vezes

já não confundiram uma ironia com um sorriso,

um abraço com um urso, um despertar com um

pesadelo.

-Vejam quanto tem de irreal no mundo que pregam

racional. Assassinatos, mortes por inanição,

mendigos, prostitutas, políticos, "ricas pessoas"...

Tantas contradições e nosso mundo é que é irreal?

-Nós vivemos onde queremos e vivemos assim

porque já não suportamos essa moral decadente,

e preferimos números e letras alucinógenas que

permeiam nossas mentes com saudáveis insanidades.

Vocês, que se acham sãos, crêem normais

os homens do poder, espezinhando seus irmãos,

inventando fórmulas de felicidade, levando

Freud, Marx, Sócrates, Engel, Jesus, para

suas bocas imundas...

-Claro! Somos nós os desajustados. Porque

não queremos compactuar com o grande irmão,

porque nos negamos a participar desse teatro

sujo, porque vivemos onde queremos e

não onde nos encarceram.

-Vivam! Vivam a ilusão de bons homens e

durmam o sonhos dos anjos,

mas deixem-nos aqui: LIVRES!

Paola Caumo
Enviado por Paola Caumo em 29/06/2006
Reeditado em 02/07/2006
Código do texto: T184309