Psycho

Eu lavarei o teu cérebro em água corrente

e o almoçarei ao molho champignon.

Subirei nas paredes do teu superego

e saltarei para dentro das tuas pupilas,

nadarei na tua íris cor-de-azeitona,

beberei o humor vítreo

da tua esclerótica pouco vascularizada.

Me enforcarei com teu cinto,

ressuscitarei no terceiro dia

e apagarei tuas velHinhas.

Chorarei uma carta de sangue sujo

sobre tuas cartas não-seladas.

Trancarei minhas comportas

e escancararei tuas saídas de ar.

Costurarei tuas palavras

com o fio da meada que regurgitarás.

Vem cá. Vem dáblio e ípsilon.

Tico-tico no teu fubá fumegante,

maçarico nas tuas juntas metallicas.

Hipóteses vaselínicas,

carcomas nucleares,

chocolates anestésicos...

Mantras eutanásicos de paixão asmática!

Ática!

Ática...

Ática.

Ampliarei os polaróides da minha nova descoberta,

assistirei a tua autópsia em negativo

e me inundarei com tua luz...

Cavocarei tua sepultura

até roçar o topo do teu Everest.

Escalarei teus monumentos graníticos,

classificarei teu crânio

entre neântropos e pós-apocalípticos.

Brindarei à nossa desunião

com um coquetel anti-HIV,

brotarei das tuas feridas

feito pastéis de vento em caçarolas borbulhantes,

soprarei nas tuas narinas

minha cafeína verborrágica.

Saciarei o teu apetite com meu sêmen

e lamberei o orifício do teu ofício.

Fim da picada.

Agora andarei,

pararei,

tremerei,

cairei,

babarei,

encontrarei um modo de te chocar

sem te despertar do sono hibernal

– discórdia bucofacial –

nestas avenidas que inundarei,

estuários que transbordarei;

daí te lambuzarei,

quebrarei,

chocarei teus ovos,

incandescerei teu gás,

rasgarei tua pele com meus caninos,

recitarei teus poemas à luz de velas,

batucarei nas tuas panelas

– me emprestas teu reco-reco?

Umberto Eco – rimas psicóticas e então

te perseguirei pela madrugada metropolitana

até teu pequeno quarto mundano;

te estrangularei friamente, apaixonadamente;

depois me sentarei calmamente

e lamentarei eternamente tua partida;

me deitarei sobre teus pecados,

pintarei de azul a tua vida colorada,

romperei até o outro lado.

Vegetando num solar maldito,

tremulando na torre de um castelo assombrado,

temperando suflês causticantes

ou falsificando a neurose emoldurada,

sigo troteando a invernada

das épicas estâncias adjacentes

aos teus rubros enleios cavernosos. (!)

Hipocondrias gelatínicas,

mequetrefes multimídia,

revoluções isoscélicas,

ciclones intracranianos:

mas isso NÃO ME BASTARÁ!

Por isso...

Exultarei,

explodirei molusco e terrífico;

uivarei para a lua do teu mel,

melecarei a bula do teu xarope

e trincarei nos dentes os caules dos

teus agriões (só mais quatro existências

e estaremos livres do contrato infernal);

derreterei, corroerei,

pulverizarei tua panfletagem iconoclasta,

derrubarei teus ícones e ídolos;

íncubos e súcubos te arrastam ao vulcão do sacrifício,

correias e arreios rompem toda esperança

de teus planejamentos marsupiais;

chuva de porongos intumescidos

e lúgubres fogos-fátuos de artifício

expõem ao mundo a cruzada satânica

dos jovens querelantes sardônicos;

o antro dos prazeres bubônicos

não me porá refreios;

arrancarei, mastigarei o lusco-fusco

das tuas novas cãibras trevosas

e nada me deterá em meu ímpeto fuliginoso;

nada me porá de 4 no minuto supremo;

arreganharei, arregaçarei, dilacerarei, matatirarei,

rasgarei

tuas bíblias colecionadas,

corroerei teus diários e agendas presenteadas,

calcificarei as membranas da tua medula

e todas as estruturas dormidas, adoecidas,

recém-convalescidas;

e, para finalizar, calarei tuas ricas reivindicações

com trinta e um fortíssimos socos

no teu delicado plexo solar

e me jogarei do décimo terceiro andar

das minhas ilusões quimiopáticas

até me arrebentar

em 3.972 estilhaços de paixão estroboscópica.

(Estas novelas intermináveis...)