DESPOESIA

Minha poesia não é poesia.

Se é poesia é pura desgraça

É deboche de boca sem dente.

É ronco sonoro de barriga vazia.

É sulco profundo em pele enrugada,

de cara sem rosto, de rosto sem cara de cara lavada,

de olho no olho de alma sombria, olhando distante...

em noite assobrada.

Minha poesia não é poesia.

Se é poesia é pura desgraça!

É cinza de cinza de fogo eterno de Fênix em brasa.

É Banquete de Ciclope faminto em caverna sagrada.

É grito do grito de grito de porco em sangria festiva de peixeira amolada. É mito monstruoso. Ciúme de Hera.Quimera maldita. Hidra de Lerna. língua de fogo. Garra comprida. Cauda de lança que carrega morte na ponta da ponta afiada.

Minha poesia não é poesia.

Se é poesia é pura desgraça!

É lágrima de lágrima de dor.

É lágrima vermelha, vermelha de sangue.

Não é lágrima de lágrima de cor inventada.

Minha poesia não é poesia.

Se é poesia é pura desgraça!

É sentimento a deriva em mundo de trevas.

Em mundo vazio. Em mundo sem vida. Em mundo sem alma...

de alma de olho no toco de vela, encima do túmulo,

queimando sozinha... de luz apagada.

Minha poesia...

não é poesia!

Minha despoesia...

é pura desgraça!

Jaíres Rocha
Enviado por Jaíres Rocha em 14/05/2010
Reeditado em 04/10/2010
Código do texto: T2257421
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