Capote branco...

Era um dia de luz... Daqueles que o frio anuncia.
Tinha as mãos mais bonitas... Tinha a macieira em flor.
Duas voltas naquela face... Dois olhares que viam só a mim.
Lembrei-me, entre o dormir e o acordar... Da espera que é tardia.
Passos largos... Os livros como carteira... O capote branco; entreabertos os ponteiros.
Outro dia, a chuva caia fina... Cobria-me a cabeça... Protegia-me fazendo conchinha com as mãos.
Pingavam lágrimas... Quando eu sorria.
Não teve sorte... Avulso improviso do destino... Saiu da cena, quando a pena não o escreveu mais.
Uma personagem criada em outra fase... Para um livro já escrito, o qual eu rasguei em pressa retorcida.
O café ao lado... As lembranças de sonho em vão... A cabeça fica vazia, abre espaço para outra direção.
Lembrei-me disso... Das personagens que joguei nos cantos para escrever depois.
Acarinho-me... Cuido dos palcos, para que eles não sejam o invólucro que crio...
Temos a mania de ver o que não existe... Designamos falas doces que eram fel. Olhamos o outro como a nós mesmos... As atitudes repetidas, somente as do espelho... Retidas imagens, às avessas, contrárias direções.
Mas, foi um dia de luz... E o frio cortava o capote branco que sorria no livro da memória.


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