Os mortos que chorem por si mesmos

Não sou de chorar por mortos,

muito menos pelos vivos.

E não remexo nunca em covas;

sou mais de dar-me boas novas.

Não me sinto à vontade

em minha própria pele,

porque ela se dobra,

se curva e se desgasta

feito couro de cobra;

da minha saliva veneno,

me engulo e sequer tremo.

E se anjos me vierem,

serão muito bem vindos.

Mas, não descarto infernos

nem a sede de diabos e putas.

Sou eu mesmo, em mim

e sendo rezas ou pragas,

luto sozinho as minhas lutas.